Quando Robert Wise encomendou a trilha de seu filme de 71, Enigma de Andromeda ao compositor Gil Mellé ele foi bem claro: "Não quero que soe musica na forma que conhecemos na terra, quero algo alienígena"
Mellé teve muita dificuldade em se levrar dos vícios de um compositor tradicional, por mais que tivesse a cabeça aberta.
Haviam momentos em que, durante a apresentação para a aprovação com o diretor, ele ouviu muito:
"muito musical!" "esse timbre lembra muito violinos, troque!" "quero mais, mais alienígena!"
Com muito esforço conseguiram chegar a este resultado que eu chamaria de quase alienígena, considerando a obra de compositores de vanguarda como Stockhausen, Henry e etc...
Mesmo assim, considero esta a trilha modelo para a linguagem de um verdadeiro filme de Ficção Científica, conceito que se perdeu com o passar do tempo quando o gênero virou meramente uma aventura ou filme de ação, onde a narrativa tanto poderia acontecer num castelo medieval quanto no planeta marte. Digamos de forma mais clara, um jeito George Lucas de ser.
Este é um o que podemos chamar de um filme Sci-Fi sério, onde uma epidemia vinda do espaço está prestes a disimar a população da Terra, e a única esperança é um grupo de cientistas e médicos, o que não inclue uma gostosa nem um galã, alto absolutamente inconsebível para o cinema da atualidade.
Toda trama se passa dentro de um laboratório, remetendo ao clima claustrofóbico de "2001 Uma Odisséia no Espaço", que possui vários andares/estágios da evolução da pesquisa contra o virus mortal, cada um de uma cor diferente. Na real, como não era uma produção milhonária, os cenários eram sempre os mesmos, só mudavam a cor da pintura.
Sem dúvida um filme muito difícil de realizar, sem ação e sem astros, e cuja trilha totalmente de vanguarda. que pena que vemos muito pouco hoje em dia este tipo de experiências...
Um clima frio, árido conduz o desenvolvimento da estória, pessimista rumo ao apocalipse eminente, reforçado pela música que de tão artificial se torna bela.
Gil Mellé tinha um forte envolvimento com o jazz, e isso faz que na trilha haja instrumentos reconhecíveis como baixo acústico e piano elétrico. Com certeza não era bem a proposta de Wise, mas acabou fazendo algumas conseções. Alguns historiadores e fãs citam a música de Gil Mellé para o filme O Enigma de Andrômeda (1971) como a primeira verdadeira composição eletrônica para cinema, que foi composta usando sintetizadores rudimentares e dispositivos eletrônicos desenvolvidos por ele próprio, que era um auto-didata na música eletrônica. Mas sabe-se que isso não é verdade. O casal Bebe e Louis Baron criaram em 1958 a trilha para o filme "O PLANETA PROIBIDO" utilizando equipamentos eletrônicos ainda mais rudimentáres e gerando resultados tão ou mais anti-música que Mellé pode alcançar aquí. Houveram também ótimos momentos eletrônicos no filme: "O PLANETA DOS VAMPIROS" de 1965 de Mario Bava (filme que tem no elenco uma gostosa, a brasileira Norma Bengell), mas não sei informar de quem é a trilha...
O disco lançado em vinil da trilha possui, em sua versão original, uma embalagem maravilhosa. Na minha opinião a mais linda e engenhosa já feita.
Outra coisa espetacular sobre essa edição é que o vinil tem a forma de um hexagono, figura matemática que remete a assunto abordado no filme.
Infelizmente o filme não foi lançado no Brasil em DVD, mas como acabou de ser lançado um remake hollywoodiano, que diga-se de passagem, foi um fracasso total nas bilheterias, quem sabe não teremos o original nas locadoras? Minha cópia tive que comprar importada ainda sem remasterização.
Sem dúvida um de meus filmes e trilha favoritos! Assista a abertura do filme que tem um design maravilhoso:
Este post teve a eficaz colaboração de Mauricio Bratifisch e Vanderlei Lucentini
5 comentários:
Anônimo
disse...
é demais mesmo, pb, mas a trilha lembra muito a feita por Bronislau Kaper para THEM!, outra ficção científica, dirigida por Gordon M. Douglas em 1954. Vc não acha?
Putz, confundi! é verdade o lance no Kaper, mas acho que o briefing do Robert Wise para este filme foi meio que o mesmo que os irmãos Bebe e Louis Barron receberam pra fazer "Fobidden Planet", do Fred Wilcox (1956). Aliás, diz-se, eles só fizeram ESTA trilha (que é demais!).
De fato, depois de star wars, a ficção nunca mais foi a mesma. Tem um outro filme estranho, inexistente em dvd (acho) que se chama Fase 4 - destruição. Tem trilha experimental, para um filme, mas a música é "normal"
5 comentários:
é demais mesmo, pb, mas a trilha lembra muito a feita por Bronislau Kaper para THEM!, outra ficção científica, dirigida por Gordon M. Douglas em 1954. Vc não acha?
abs.
Putz, confundi! é verdade o lance no Kaper, mas acho que o briefing do Robert Wise para este filme foi meio que o mesmo que os irmãos Bebe e Louis Barron receberam pra fazer "Fobidden Planet", do Fred Wilcox (1956). Aliás, diz-se, eles só fizeram ESTA trilha (que é demais!).
Pois é, a trilha do Planeta Proibido é ainda mais radical, né?
Curto demais!!!!
Tenho só em cd, mas estou namorando uma cópia em vinil...
De fato, depois de star wars, a ficção nunca mais foi a mesma. Tem um outro filme estranho, inexistente em dvd (acho) que se chama Fase 4 - destruição. Tem trilha experimental, para um filme, mas a música é "normal"
que grande sorte ! o objecto-disco e de mais !
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