sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

CARL ORFF - DE TEMPORUM FINE COMOEDIA - Alemanha - 1974

orffkarajanif5

Mais uma obra prima que encontrei no sebo em Juiz de Fora.
E esse me custou só 5 reais!!!! Isso mesmo, 5 reais!!!!!
Mas esse não é só mais um disco muito foda que eu comprei.

Procuro esse disco por mais ou menos 20 anos na minha vida!

Essa obra já influenciou vários trabalhos que já fiz, tanto de
vídeo como de música.
Quem me apresentou à essa maravilha foi meu amigo
Ricardo Corrêa de Juiz de Fora.
Ele já era um fã de carteirinha!

Talvez a Ópera mais radical já escrita na nossa civilização.
Sua magnitude é tão intensa quanto séria como expressão cultural.
Na minha opinião é a obra máxima de Carl Orff.

intro

Para ajudar-los à entender sua importância, seu roteiro e
sua descomunal montagem, trancrevo aquí exatamente o texto
de sua contra-capa.
É longo, mas é lindíssimo, não deixe de ler!

1º Cena

Esta peça sobre o fim dos tempos é chamada "A Vigília".
Começa com as lamentações das 9 sibilas.
Usando cantos asiáticos e melodias expressivas
baseadas em escalas gregas, elas descrevem os
terrores do julgamento do mundo. A encenação de
Saltzburgo dispensa cenário antiquado, evitando oáculos
píticos e imagens históricas concretas. Foi escolhida
uma árvore para pouso das corujas que reconhecem
plenamente o fato de que o egoísmo é a fonte de todo
o mal, e que a ânsia de possessão é a arma da guerra.
Esta árvore é tão misteriosa quanto as profecias das
Sibilas , tão romantica quanto sua linguagem simbólica
e tão funéria quanto sua história. As três primeiras
sibilas formam o tronco da árvore da vida.
Sobre seua galhos pousam as irmãs de cabelos
compridos que gemem seus lamentos pela humanidade,
condenada sem esperança de redenção.
A sorte dos últimos seres humanos será tão terrível que,
frente a ela, a morte seria desejável.

2º Cena

A arvore se desintegra, as sibilas pairam próximo a
terra e falam dos acontecimentos deste mundo quando
não mais existirmos. Orff rejeita essa visão pessimista
do fim das coisas. Recusa-se a acreditar em um Deus
que nos ameaça com julgamento e punição eterna.
Ele acredita que Deus não é um temível demônio mas
um Deus de amor e consolação.
Seu lema: "Omnium rerum finis erit victiorum abolitio" -
o fim de todas as coisas será o esquecimento de toda
culpa, palavras de Origen, um dos pais da igreja.
Seu ensinamento revela o drama cósmico dos seres
espirituais criados por Deus e por Ele dotados de razão.
O drama começou no Céu antes do começo dos tempos,
quando esses seres se rebelaram contra seu criador.
Deus os puniu dando a cada qual haveres materiais
em proporção da extensão de sua culpa individual.
Origen considerou o assunto como a base do
esfriamento do amor. Assim o mundo começou a
existir como consequência do pecado.
Enquanto punia pela imposição das coisas materiais,
porém, Deus pretendeu também permitir um caminho
para a redenção e o esclarecimento. Segundo
Origen, o meio radical para a salvação é

2º e 3º Cenas

a destruição do mundo, de modo que todas as coisas
possam reverter ao estado primordial. Todas as
criaturas dotadas de razão de novo se tornarão iguais,
misturando espírito e matéria. As sibilas flutuam
agora como satélites sobre a nossa terra, que brilha
como uma linda bola de luz sobre os astronautas
sibilinos. Elas descrevem a noite que "abraçará
igualmente pobres e ricos", e em que a vontade justa
será salva e os sem Deus perecerão. "Todos os elementos
básicos do universo desaperecerão: ar e terra e mar, e a luz
do fogo incandescente; e a abóboda dos céus e a noite,
os dias todos se fundirão em um, envolvidos na mais
profunda escuridão. Tudo então se fundirá e novamente
será separado através da purificação"
Em grande gritos desaparececem deste mundo estas figuras
do mal. que representam nossos temores mais básicos
e são vozes de nossa insegurança existencial.
Ibunt, ibunt, ibunt, impii in gehennam,
FOGO ETERNO NOS ESPERA - ignis eterni!

vsprs3

4º Cena

Os anacoretas respondem com um veemente "Não" à
ameaça do fogo eterno.
Os acetas eremitas do deserto, eruditos dedicados
à lamentação, chamam a ameaça de mentira e descepção,
uma história infantil. Eles, os esclarecidos, rejeitam com
sorrisos a religiosidade fundada na repressão, no medo e
no terror. Foi-lhes dada uma formação claramente matemática:
um grande telescópio, uma tela de radar que capta amor
não adulterado. Esses calvos mestres , penitentes do deserto
de início se exprimem na música de maneira puramente verbal.
A única música dessa seção é a quinta vazia sobre o dó
quando os anacoretas expressam sua esperança.
"Unus solus deus ab aeterno in aeternum"
Ouvimos essa quinta novamente um pouco depois, quando
os meninos se juntam à música com seu otimista "Esaei"
(Para sempre). Para os anacoretas é impossível que uma
criatura possa ser eternamente condenada. eles não
consideram nem mesmo Satã punido por toda a eternidade.
O diabo ronda e desvia muitos, mas isso foi pretendido ou
permitido por Deus Todo-Poderoso porque "Nihil contra
deum, nisi deus ipse". Eles contradizem a afirmação das
sibilas de que todo erro deve ser expiado no fogo do inferno
depois dos tempos, no futuro. Enfatizam que a expiação ocorre
"hic et nunc", em nosso tempo. Estes sábios ignoram, porém,
o que virá no fim dos tempos.; eles também não tem resposta
para o nosso objetivo, o nosso propósito último.

4º / 5º Cena

Eles, os lógicos, devem pedir um pedir um sonho que nos revele
qual será o nosso fim.
Esses gnósticos buscam um rico sono em sonhos, a fim de
aprender como agnósticos como será o fim dos tempos.
No acorde de cinco vozes de uma reiterada invocação do
sonho divino dos hinos órficos, percebemos a impotência do
que é puramente analítico e o poder da imaginação.
"Deus nos manda profecia,
Predição,
Revelação de um sonho.
Deus nos manda esse sonho"
E o divino sonho alado envia-lhes o ansiado sonho.

6º Cena

O sonho dos anacoretas do fim dos tempos torna-se-nos
visível: os últimos seres humanos saem dos buracos.
A catástrofe no fim das idades ocorreu, o sol foi destruído.
Contudo, Carl Orff não deu a esta última sessão de sua
Comoedia o nome de Dies Irae, as palavras com que
começa a sequência, mas Dies Illa, o dia em que os seres
humanos são confrontados com o destino de que diariamente
se aproxima em seus pensamentos.
Como são os "últimos seres humanos"?
Não são mais do que cabeças, orgãos reprodutores, nada
além de automatos?
Terá o produtor de criar um conceito de ficção científica?
Na nossa apresentação eles vêm como formigas negras e
perderam suas faces.
Estão perdidos, abandonados, e todos os caminhos levam
a nada. Estes últimos dos últimos rodam em círculos pelo
globo vazio. "Foram enganados pela morte e estão profundamente
perturbados por não terem sido preparados para o fim
que os espera".

7º Cena

"Parati non sumus". A música se torna exasperada ante o
grito das massas que perderam seus haveres e se lançam contra
um céu vazio sobre uma terra vazia. O sonho dos anacoretas
é muito semelhante ao pesadelo da humanidade e ao que as
sibilas profetizaram. Os últimos seres humanos perdem o chão
sob seus pés e não podem se sustentar: "Estamos caindo, caindo,
caindo, caindo pra fora do tempo no fim dos tempos."
O carrossel da terra gira erraticamente e lança seus passageiros,
já que não podem nela se agarrar, ao negro vácuo.
Nada sobreviveu, nada permanece, "nihil restat", além do momento
imediato que, por isso, eles resolvem aproveitar ao máximo.
Essas pessoas sem caras só podem expressar o que quer que seja
com máscaras - uma mascara mostrando uma cara alegre,
outra um grito de horror. Sem máscaras não são pessoas
os últimos seres humanos.

8º Cena

Estes últimos seres chamam, imploram, pedem, gritam por piedade
na noite gélida. Gemem um Kyrie para o céu, que já não responde.
Aguardam ansiosamente uma resposta e esperam o julgamento
do Poderoso.
Querem que ele, com sua força, acabe com o terror que sentem,
mas o céu se desintegrou e o homem está só.
Já não pode haver díalogo, o homem não recebe palavra nem
veredito, ou sentenca.
A Criação estea silenciosa. Deus recusa-se a responder.
O homem se aflige com o mais profundo horror: "Angor, timor,
horror, ac pavor, invadit omnes". Mas Lucifer, que certa vez foi
nos enviado por Deus para nos dar a luz, o portador de luz
cujo reino se tornou o lugar da escuridão porque ele pretendeu
ser Deus, este responde.

9º Cena

Surgem as chamas de Tártaro. As pessoas se aterrorizam,
acreditando que as portas do inferno estão por se abrir.
Alarmados, não pensam no propósito de purificação pelo fogo.
Dissolverei tudo e separarei tudo para a purificação",
haviam proclamado as sibilas como sendo a palavra de Deus.
O chefe do coro tenta sublevar o povo com palavras dos
Carmina Burana, mas ele também é vencido pelo terror quando
vê o olho que nos vigia. Não é o olho trino da Divindade, mas

OCULUS
ASPICIT UNOS
TENEBRARIUS
TENEBRIS

O OLHO NEGRO NOS CONTEMPLA COM A ESCURIDÃO.

lucifer-1

10º Cena

O olho é despedaçado e o "atributo corporal" é projetado
para frente como sob o impulso de uma catapulta.
O inacreditável acontece: Lúcifer confessa três vezes
"Pater peccavi". Em seguida à sua confição, os trompetes
proclamam a quinta sobre o dó.
Embora todos os outros seres não tenham face, Lúcifer,
portanto os emblemas de bestas que conhecemos do Apocalipse,
é a única criatura que não perdeu seu rosto.
A instrução de Orff dada ao cenário é a seguinte:
"Um raio de luz ilumina a máscara, que cái e revela uma face suave,
o casaco e as garras caem, retira o capacete e o cabelo se
espalha em ondas vermelhas. Ele é de novo o Lúcifer de
antigamente." Os seres humanos jea não tem faces moldadas
segundo a imagem de Deus, mas essa imagem foi preservada
por Lúcifer. Ele começa o Restitutio que põe ordem de novo
à existência. A voz da terra, vox mundana, proclama
a partida para uma nova região.
Venio ad Te, Tu paraclitus est sum finis e as vozes celestiais
voces caelestes, proclamam a nova união do espírito
e da matéria.

11º Cena

A destruição, a dissolução do mundo é o meio radical de
salvação, para para que possibilite um retorno ao estado
primordial. Essa condição é puro espírito. Mas como deve ser
representado o puro espírito? Orff sugere luz sempre crescente,
mas mesmo as mais poderosas fontes de poder não seriam
capazes de produzir efeito suficientemente radiante.
Nós de novo mostramos o homem em sua sectio aurea,
mostramos como ele é transformado numa figura matemática,
e como isso por sua vez se dissolve na luz.
Luz que concentricamente enche o disco elevado do palco.
Uma nova manhã encerra a vigília e tudo recomeça.
Na seção conclusiva da música as violas tocam notam de igual
valor, indicando que o estado primordial foi restaurado.
Orff quis que Deus fosse visto não como um vingador
mesquinho, fosse visto como um Deus que não percegue
o culpado além dos nossos tempos mas nos permite
livrar-nos dos erros em nossos próprios dias.

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Essa ópera utiliza uma incrível não usual
combinação de instrumentos:
• 6 flautas;
• 3 clarinetes em Eb
• 3 clarinetes em Bb
• 1 clarone
• 6 trompas em F
• 8 trumpets em C
• 6 trombones
• 3 harpas
• 3 pianos com dois pianistas cada
• 1 orgão eletrônico
• 1 tuba
• 4 violas da gamba
• 8 contrabaixos
• uma enorme seção de percussão (100 instrumentos ao todo
para uma média de 25 à 30 músicos) que inclui:
• 2 caixas
• 6 pandeiros
• 3 tambores tenores
• 2 tambores baixo
• 3 darabukkas (alto, tenor e baixo)
• 3 tom-toms
• 6 congas
• 1 conga baixo
• 4 "timpanettis" sem recurso de afinação;
• 5 timpanos (3 com pratos)
• 5 crotales
• 5 pratos suspensos
• 1 par de pratos crash
• 3 copper tam-tams (40-60 centímetros de diâmetros)
• 2 tam-tams grandes
• 1 gongo afinado no baixo em C
• 1 dobaci (tipo de sino japonês) afinado em C sustenido
• 5 sinos de bronze afinados com intervalos de semitom
• 2 set de sinos tubulares
• 1 triangulo
• 1 reco-reco
• 1 whip
• 1 par de maracas
• 6 castanholas
• 1 hyoshigi
• 1 angklung
• 3 wood bells
• 5 wood blocks
• 2 matracas (uma simples e outra dupla)
• 3 matracas de igreja grandes
• 4 copos com água
• 2 glockenspiels
• 1 lithophone
• 1 metalophone
• 3 xylophones
• 2 marimbas

Gravações em fíta magnética podem ser ouvidas
em 4 momentos distintos da ópera, em especial
no momento da aparição de Lúcifer.
Esses momentos são reforçados ao vivo por:
- orgão
- marimba
- crotales
- timpanos
- solos de tenor e contralto
- um grande coro emitindo um grito bem alto
composto pela seção de tenores, duplo coro de sopranos
e altos e um coro de crianças soprano.

Gravações em fíta magnética podem ser ouvidas
em 4 momentos distintos da ópera, em especial
no momento da aparição de Lúcifer.
Esses momentos são reforçados ao vivo por:
- um orgão de igreja
- marimba
- crotales
- timpanos
- solos de tenor e contralto
- um grande coro emitindo um grito bem alto
composto pela seção de tenores, duplo coro de sopranos
e altos e um coro de crianças soprano.

De temporum fine comoedia

Acima a versão sem graça do lançamento em cd.

CARL ORFF
(1895 - 1982)

DE TEMPORUM FINE COMOEDIA
® 1974 Polydor International GmbH, Hamburg

Tracklist:
1 - 5 - I. AS SIBILAS
6 - 11 - II.OS ANACORETAS
12 - 18 - III. "DIES ILLA" - OS ÚLTIMOS HOMENS

http://www.mediafire.com/?ejwm2mmqcg4

Orquestra Sinfônica da Rádio de Colônia
Regente Herbert Von Karajan

A única referência que encontrei à essa obra no
youtube é falando sobre uma montagem moderna
na Rússia. Vale à pena conferir.
Pena que quase não se ouve a música:

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