terça-feira, 28 de abril de 2009

Kutiman mixes YouTube 2009



Falando sobre as novas possibilidades de criação musical
reciclando material sonoro e de video disponíveis na internet,
posso destacar o trampo de KUTIMAN: http://thru-you.com/

Questionando sobre os novos caminhos e rumos musicais
para o planeta Terra, acredito ser a reciclagem a última
palavra em avanços possíveis como linguagem e técnica.
Nada para se afirmar, mas algo bom para se pensar à respeito.

O processo não é novo, recortar...colar...
O que mudou foi o objeto à ser manipulado.
Os aperfeiçoamentos instrumentais digitais inspiram à resultados
como este.
Um fato importante à ser observado é que a linguagem não
está mais sob o domínio exclusivo dos eruditos. Os manos
estão dominando a parada, e com eles sua cultura e atitude.

http://www.myspace.com/kutiman

sábado, 25 de abril de 2009

CLAUDINE LONGET - Run Wild, Run Free - USA - 1970

claudine capa

Querida Claudine...


claudinel


Nascida em Paris em janeiro de 1942.
Infelizmente sua fama de ter assassinado seu namorado,
a lenda do esqui, Spider Sabich, se tornou maior que seus
discos e sua carreira nas artes dramáticas.

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O famoso dia fatídico em que descarregou as balas de um
revolver no estômago do namorado numa cabana na cidade
de Aspen, deixando-o mortalmente ferido no banheiro.
Esta cantora tão linda, de voz tão docê e angelical
foi protagonista de uma vida tão cheia de idiossincrasias e
contrastes que "só a realidade pode criar".

Viveu momentos de celebridade ao se casar com o rei da
Easy Listening Andy Willians, quando toda a imprensa quis
fazer daquele relacionamento como um grande conto de fadas.

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Mas na realidade a forma como ambos se conheceram foi
lasciva e ainda quando ela, recém chegada da frança dançava em
cabarés obscuros em Las Vegas fazendo aqueles famosos
showzinhos solos de stripper que a gente vê em filmes até hoje.

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No caso, Willians estava mais para um velho babão caçador
de menininhas.
Deste conto de fadas nasceram alguns filhos a quem ela muito
se dedicou posteriormente.

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Lançou ao todo 7 Lps, entre 1967 à 1972, mas nunca teve
oportunidade de encontrar seu público ao vivo.
Na realidade, seu trabalho naquele momento foi muito mal
ouvido porque a juventude da época estava mais ligada ao
rock e as experiências mais extremas que ele proporcionava.

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Claudine soava como cafona e adocicado demais.
Talvez aquele universo de doçura lhe fosse mais saudável
buscando uma pureza que lhe foi arrancada logo cedo, mas
com certeza é clara uma densa melancolia nas entrelinhas
de seu "sunshine pop".

cancan
Ela é a terceira de pé da esquerda pra direita.

Claudine nasceu no 14 º distrito de Paris - perto do Sena e
em uma área povoada maioritariamente por estudantes de arte.
"É o centro de Paris", diz Claudine com orgulho, e acrescenta:
"Quando o movimento existencialista começou foi onde
e quando eu comecei."
Não era uma área que os turistas frequentavam, o que dava
bastante liberdade aos estudantes e artistas.

claudine

Logo cedo, no frescor de sua infância já tinha certeza de sua
vocação para a arte dramática.
Frequentou a Academia das Artes estudando com pessoas
que dedicavam a vida ao teatro e também envolveu-se com
o balé clássico.
Logo aos 10 anos de idade interpretou uma garotinha possuída
numa montagem teatral da maravilhosa obra literária de Henry James
"A VOLTA DO PARAFUSO".

No brasil foi lançado em dvd o filme hollywoodiano que
remete à essa estória chamado "Os Inocentes".
Se você ainda não conhece, está bobeando...

Muitos questionaram se aquela experiência não iria marcá-la
pela natureza tão cruel e sórdida da obra, mas ela disse
que não se importava com isso e que foi uma experiência
fascinante na qual ela entendeu mesmo aos 10 anos.

Sua primeira grande produção foi aos 15 anos após
conhecer Jean Cocteau, o baluarte do surrealismo, dramaturgo,
autor, produtor/diretor e cineasta.
Ela foi escalada pelo mestre para atuar em "A Maquina Infernal",
baseado numa tragédia grega.
A Longetzinha interpretou Antígona.

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Aos 16 ela já estava totalmente enturmada com a galera
modernista do teatro de vanguarda.
Naquela loucura toda, aos 17 ele foi morar na itália e foi
lá, nesse momento, que ela foi convidada à acompanhar uma
trupe teatral à se mudar para os Estados Unidos.
Dizem que ela foi por causa de uma "namorada", ual!
Esse povo do teatro...

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Não demorou muito, uma conexão aqui, outra ali, era já estava
dançando nua em Las Vegas.
Em 1960 estava sim, afundada na putaria clássica.
Nessa coisa toda que ela conhece o "Bom Moço" Andy Willians,
o rei das cocotinhas...

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Na real não foi um mal negócio, porque aos poucos ela
foi trabalhando como atriz em filmes e seriados de TV como
"Combat", "Hogan's Heroes", "Dr. Kildare" e muitos outros.

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Numa dessas ela aparece cantando "Meditação" e foi onde
Herp Alpert levou a princesa para a gravadora A&M e a lançou
como cantora proficional.

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Seu primeiro disco chamou apenas "CLAUDINE".
Havia um grande charme naquela bonequinha com sotaque
francês que não era nada muito especial para as mulheres
mas que dava muito tesão nos homens.

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Ganhou disco de ouro!
Mesmo assim sua carreira como cantora não foi nada meteórica
e nem teve tanto destaque.

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Era apenas uma garotinha (já nem tão novinha assim) com
aquela deliciosa vozinha pequena que exigia um mix bastante
rebaixado da orquestração.

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Parra o grande público e indústria fonográfica já existia como
referência máxima o grupo The Carpenters, de dois irmãos
(AMERICANOS) muito mais talentosos e com grandes vozes.
Quem seria Claudine para concorrer...
Mesmo assim, em seus álbuns existem excelentes versões de
clássicos da época como Beatles ou Stones, mas sempre numa
pegada mais leve e fofinha.

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Seria um pecado deixa de citar sua participação no filme
"Um Convidado Bem Trapalhão" com Peter Sellers

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Ela interpreta uma garota que busca uma chance como cantora e
que acredita no papinho dum corôa que tá só afim de comê-la,
que a leva pruma festa mega rica na casa de um produtor
de hollywood e a faz cantar para todos alí um deliciosa bossinha
chamada "Nothing to Loose" composta por ninguém menos
que Henry Mancini, autor da trilha.

No filme a vida dela tá tão sem perspectivas que ela acaba
ficando com um ator lixo indiano atrapalhado, no caso o
também comedor Peter Sellers.

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O single dessa música foi um dos maiores sucessos de sua
carreira, mas nunca apareceu nos álbuns.

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Este álbum que aqui apresento é o quinto de sua carreira e
segue exatamente o padrão da cantora que nem sequer teve
oportunidade de guinar sua carreira, mas o título do disco
torna-se bastante sugestivo ao conhecer-mos a história dessa
moça. Dá pra entender o quanto ele é de verdade...

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Depois de toda merda do assassinato, ela acabou sendo
acolhida pelo ex-marido e pai de seus filhos Andy, o que
foi muito legal da parte dele.
Ela passou pouco tempo presa e logo foi transferida para uma
espécie de prisão domiciliar.

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Era isso mesmo que a moça precisava. Chega de encrencas!

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Claudine está viva até hoje, mas ninguém a vê ou sabe onde está.
Jamais foi visto uma única foto de sua aparência hoje.
Mas onde quer que esteja, querida Claudine, saiba que uma
nova geração nasceu e que foi capaz de apreciar muito sua
obra e sua leveza melancólica.
Nós a amamos muito!

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Tracklist:

1. Everybody's Talkin' 2:40 (Fred Neil)
2. Lazy Summer Night 2:45 (Harold Spina)
3. Little Man (Little Woman) 2:35 (Danny Janssen)
4. A Bushel and a Peck 3:25* (Frank Loesser)
5. Love Can Never Die 2:56 (Smokey)
6. Something 2:20 (George Harrison)
7. Don't Remind Me Now of Time 2:51 (John Simon-Peter Yarrow)
(From motion picture "You Are What You Eat")
8. Golden Slumbers 2:47 (Lennon-McCartney)
9. Run Wild, Run Free 2:41 (Don Black-David Whitaker)
(From Columbia picture "Run Wild, Run Free")
10. This Changing World (De L'Automne a L'Automne) 3:07
(Original Text, Roland Valade-English Lyric, Diana Spryopulos-Music, Jean-Claude Oliver)
11. Thank You Baby 2:42 (Bruce Johnston-Denie Dudley)

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ouça aqui

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Texto de Adriana Peliano sobre Grete Stern / Sonhos Sobre Sonhos - Brasil - 2009

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Grete Stern. Sonho no 42: Sem titulo. Idílio no 12, 1949 – “Os sonhos sobre perigo”

A fotógrafa alemã Grete Stern (1904 - 1999) revelou-se como artista no auge da República de
Weimar, sob influência direta da Bauhaus, através de seu professor Walter Peterhans.
Num momento promissor para a arte experimental em Berlim, juntamente com Ellen Rosenberg,
abre o estúdio fotográfico Ringl + Pit, onde desenvolve novas linguagens na publicidade,
em sintonia com os avanços das vanguardas artísticas.
Com o Nazismo, a Bauhaus fecha suas portas. Grete, como muitos outros artistas,
deixa o país com o seu companheiro Horacio Coppola e vai em 1933 para Londres,
exilando-se em 1936 em Buenos Aires, onde viveria desde então.
O leque de sua produção fotográfica foi vasto.
Registros urbanos, pesquisas antropológicas e retratos,
tendo fotografado muitos artistas e intelectuais de sua época.
Focamos aqui em especial uma série de cerca de 150 fotomontagens que realizou para Idílio –
La revista juvenil e feminina, de 1948 a 1951.
Muitos desses originais se perderam, restando apenas um conjunto de 46 imagens que podemos
encontrar, pela primeira vez no Brasil, numa exposição atualmente no Museu Lasar Segall em São
Paulo (4 de abril a 28 de junho de 2009).

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Essas imagens ilustravam a página semanal “El psicoanálisis le ayudará”,
na qual as leitoras enviavam seus sonhos que eram analisados
na revista, sob o pseudônimo de Richard Rest, pelo sociólogo Gino Germani e pelo editor
Enrique Butelman, em diálogo direto com as imagens de Grete Stern.
Se por um lado as análises tinham raízes na psicanálise de Freud e na psicologia analítica de Jung,
as fotomontagens se aproximavam da linguagem do dadaísmo e do surrealismo.
Sabe-se que Butelman era o encarregado de ler e responder as cartas das leitoras, enquanto Germani
selecionava os sonhos e a abordagem das imagens a serem trabalhadas por Stern.
Segundo ela, havia sempre diretrizes precisas em relação à diagramação e à presença de
determinadas figuras e motivos (Stern, 2009).

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As fotomontagens de Stern são a princípio “a tradução de uma tradução e representam
o segundo grau de mediação entre a sonhadora e o seu teatro onírico” (Fabris, 2009). Mas se a
imagem e a interpretação são algumas vezes redundantes, outras vezes a imagem ganha autonomia,
oferecendo uma visão estranha, bizarra, inquietante, angustiante e cômica para
aquilo que no texto se limita a uma argumentação racional.
Ao trabalhar com os sonhos alheios, Grete Stern é obrigada a formular estratégias visuais
e criar também um repertório de signos capaz de dar conta dos desejos,
das angústias e das memórias das leitoras de Idílio. Suas fotomontagens adquirem desse modo a
mesma estrutura das atividades oníricas e são uma espécie de “sonho dentro do sonho” (Fabris,
2009) em virtude da reelaboração e da dramatização das situações que ela propõe.
A maior parte dos sonhos analisados em Idílio revela a sonhadora diante de seus impulsos,
inibições, sentimentos, conflitos, carências, dúvidas e insatisfações.
As sonhadoras revelavam-se em grande parte mulheres oprimidas,
“a beira de um ataque de nervos” (Schwartz, 2009), em conflito direto
com os padrões machistas da sociedade argentina de sua época. As fantasias e os sonhos atuam
nesses casos como atividade compensatória, intermediando o anseio de escapar do cotidiano
opressor e os desejos insatisfeitos das leitoras.

Todo el peso del mundo,Grete Stern

O que chama atenção nas análises dos sonhos e nas respostas às cartas das leitoras é a abordagem
predominantemente jungiana. Entretanto, a crítica mais habitual feita às interpretações dos analistas
por correspondência é a de que lêem os sonhos de acordo com um mapa do inconsciente coletivo
como uma espécie de catálogo estereotipado. A identificação dos símbolos tende a uma análise
mecânica e mais ou menos previsível: a fruta remete à vida amorosa, o vegetal ao desenvolvimento da
alma, a água ao inconsciente, a casa ao feminino, o ovo ao renascimento, o animal às forças
instintivas, e assim por diante. (ver Fabris, 2009)
Um conceito fundamental para Jung, a individuação, é também aplicado algumas vezes por Germani.
O processo de individuação é o movimento do ser em direção ao self, o núcleo da psique.
Quando o consciente e o inconsciente se ordenam em torno do self, acredita-se que a
personalidade está integrada.
Esse processo envolve vários aspectos como o desmascaramento da persona, a aceitação
da sombra e a confrontação da anima e do animus, todos conceitos jungianos.
Germani simplifica todo o processo em poucas palavras: pode-se alcançar a autonomia
do indivíduo graças a um processo de crescimento da personalidade, que faz com que a pessoa
atinja seu pleno potencial.

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A psicanálise, por sua vez, oferecia um caminho para o autoconhecimento, para a descoberta dos
complexos ocultos que seriam as verdadeiras causas da infelicidade. Embora o nome de Freud não
seja citado, alguns de seus conceitos são apropriados nas análises, tais como condensação e
deslocamento, que também se aplicam diretamente ao tratamento das imagens feito por Stern, que
criava fragmentos de narrativas com base no princípio da livre associação.
Freud criou a teoria sobre o trabalho do sonho (distorção no sonho para proteger o sujeito do caráter
ameaçador dos seus desejos), em que fala dos mecanismos da condensação e do deslocamento. A
condensação é o mecanismo pelo qual uma representação inconsciente concentra os elementos de
uma série de outras representações. Já o deslocamento é uma operação através a qual uma quantidade
de afetos se desliga da representação inconsciente à qual estava ligada e vai ligar-se a uma outra
representação que recebe assim uma intensidade de interesse psíquico excessiva enquanto a primeira
é recalcada. Este deslocamento encontra-se em todas as formações do inconsciente.Tal como a
condensação equivale à metáfora, o deslocamento equivale à metonímia.

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Já na antiguidade a interpretação dos sonhos era uma verdadeira arte que abraçava os campos da
adivinhação e da medicina, em geral sob responsabilidade dos sacerdotes, pois se acreditava que os
sonhadores eram meros canais para a manifestação de forças sobrenaturais. Com o romantismo os
sonhos ganham novamente uma grande importância, como manifestações autênticas do mundo
interior, respondendo a noção do artista como receptáculo da inspiração, emanada de forças que ele
mesmo não compreende totalmente. Herdeiros de alguns pressuposto básicos do romantismo, os
surrealistas estão interessados em registrar os mecanismos do sonho, de modo a conferir realidade as
produções mentais, a materializar o inconsciente e o desconhecido. Trata-se de uma linguagem
metafórica que se serve de imagens estranhas conduzidas pela metamorfose, pela subversão da lógica
do espaço e do tempo, pela configuração de contextos improváveis, contraditórios e absurdos. (ver
Fabris, 2009)

grete stern[1]

Como na colagem e na fotomontagem, a imagem surrealista é fruto da aproximação entre duas
realidades distantes, sendo por isso arbitrária, alucinatória e contraditória quando comparadas a
realidade convencional. O caráter enigmático e ao mesmo tempo realista do sonho encontra na
fotomontagem um terreno propício, numa lógica que aponta para outro sentido, que deve ser
buscado entre fragmentos e associações inesperadas. Como nas montagens dadaístas e surrealistas,
nada é o que parece. Mário de Andrade, com olhar agudo, fez uma leitura psicanalítica da
fotomontagem e apontou características comuns ao poeta e ao realizador de fotomontagens. “As
nossas tendências mais recônditas, nossos instintos e desejos recalcados, nossos ideais, nossa cultura,
tudo se revela nas fotomontagens.” (Andrade apud. Cristofaro, 1998)

Grete Stern Sueno no.46 Extraniamiento 1948

O princípio da fotomontagem juntamente com a colagem tornou-se um projeto poético e político
nas vanguarda históricas, um dos grandes legados da arte moderna. A colagem no surrealismo teve
expressão máxima na obra de Max Ernst, que desenvolveu a concepção surrealista da collage a partir
da famosa imagem de Lautréamont do encontro de um guarda chuva e uma máquina de costura
sobre uma mesa de dissecação, como o “acoplamento de duas realidades aparentemente inacopláveis
sobre um plano que aparentemente não lhes convém.” (apud. Gimferrer, 1983) A collage é um
procedimento poético efetuado com elementos extraídos de desenhos impressos em livros, revistas e
jornais, fotografias, figuras de propaganda, retalhos visuais que são incorporados ao quadro de uma
maneira tão minuciosamente trabalhada que dificilmente se nota o artifício.
Ocorre que o artistareconfigura o objeto em uma nova realidade, “para transformar em dramas
reveladores dos seus mais secretos desejos o que antes não passava de vulgares páginas de publicidade.”
(Ernst apud. Gimferrer, 1983)
As novelas colagens de Max Ernst das décadas de 20 e 30 são constantemente consideradas entre as
obras mais intensamente perturbadoras de todo o surrealismo. La femme 100 têtes (A mulher 100
cabeças) foi a primeira, seguida por La semaine de Bonté (Uma semana de bondade) e Une petite fille rêve
d’entrer au Carmel (Uma menina que sonha tornar-se freira). Primeiro Ernst recolheu centenas daquelas
puritanas xilogravuras vitorianas, que ornamentavam os livros e jornais para senhoras da época.
Recortou as imagens e tornou a montá-las à sua maneira perturbadora: daquela ingenuidade
açucarada nasceram, assim, cenas eróticas e mundos demoníacos.

MaxErnst_UneSemainedeBonte_1934
Max Ernst. Colagem de “Une Semaine de Bonté”, 1934

No dadaísmo Raoul Hausmann foi o provável inventor do procedimento por ele batizado de
fotomontagem. (Richter, 1993) A fotomontagem no contexto do dadaísmo berlinense surgiu como
uma proposta política provocativa e iconoclasta, através do emprego livre de peças da realidade
visando ao ataque político ,“a fim de fazer o mundo desvairado engolir a própria imagem”. (Richter,
1993) A fotografia comparecia como uma imagem ready made, que era colada junto a recortes de
jornais, revistas, letras e desenhos, a fim de construir uma imagem caótica e explosiva, num desejo de
destroçar a imagem do mundo, desmascarado em sua absurda falta de sentido. Introduzindo
simultaneamente diversos pontos de vista e diferentes níveis de perspectiva na representação plástica,
as fotomontagens dadaístas desmontavam um mundo de sistemas despedaçados, arrancando do caos
dos tempos de guerra e revolução uma imagem nova, tanto visual quanto intelectual.

Raoul Hausmann_Tatlin chez lui_1920
Raoul Hausmann. Tatlin chez lui, 1920.

O construtivismo russo também adotou os procedimentos da fotomontagem dentro do contexto
revolucionário. Durante a década de 20 ampliou-se cada vez mais o uso da fotomontagem
combinado a novas técnicas tipográficas no campo da publicidade e da propaganda política para
pôsteres, capa de livros, postais e ilustrações. Entre os artistas do construtivismo russo, destaca-se
Alexander Rodchenko, cujas fotomontagens e cartazes são tão fantásticos quanto suas fotografias,
onde rompe com os limites da percepção comum. Em 1923 fez uma série de fotomontagens para
ilustrar o poema “Isto” de Mayakovsky. Centradas na imagem de Lily Brik, amante de Mayakovsky,
as fotomontagens, assim como o poema, promovem um diálogo entre a condição do indivíduo e da
coletividade. Segundo Dawn Ades (apud. Cristofaro, 1998), a série de poemas versa sobre a
necessidade urgente de expressão individual dentro de uma sociedade revolucionária. Foi a primeira
vez que um livro foi inteiramente ilustrado com o uso da fotomontagem.

Rodchenko_Isto_1923
Alexander Rodchenko. Ilustração para o poema de Mayakovsky “Isto”, 1923.

Entretanto, diferente do processo de colagem que parte da apropriação de material gráfico
preexistente, o trabalho de Stern revela um aspecto programado e racional. As imagens são definidas
através de um esboço prévio, e a montagem propriamente dita mescla recursos de laboratório com a
prática da tesoura, misturando negativos do acervo da fotógrafa com fotografias tiradas
especialmente para compor as imagens planejadas.
A fotógrafa se inspira em procedimentos surrealistas, mas colocados a serviço de outras finalidades.
Uma série de imagens produzidas por ela e Ellen Auerbach no estúdio Ringl + Pit na década de 20,
como o uso da manequim no reclame da Pétrole Hahn em 1928, inscreve-se em um emprego
deliberado dos pressupostos surrealistas a serviço da publicidade, graças aos quais a mercadoria
adquire novos significados e associações de caráter metafórico e simbólico.

publicidade
Ringl + Pit, 1928

As imagens de Grete Stern para Idílio podem ser vistas como um signo do desassossego crescente de
uma parcela da população feminina durante o peronismo, quando Eva Perón reforçava o modelo
tradicional de submissão da mulher ao marido, restrita ao âmbito doméstico. A frustração da mulher
com o papel que lhe era reservado na sociedade é um tópico bastante freqüente nessas
fotomontagens, e é evidente o desconforto de muitas sonhadoras de Idílio diante do seu papel
secundário na vida do casal.
Grete Stern dá vida a esse estado de desconforto graças a um recurso bastante adotado nas
fotomontagens dadaístas: a subversão das proporções entre os diferentes elementos da composição.
(ver Fabris, 2009) Uma pequena mulher tenta escapar de uma bacia cheia de água e sabão escalando
uma gigantesca tábua de lavar, por exemplo. Em outro momento o efeito cômico deriva de
metamorfoses no corpo, criando efeitos que se situam no limiar entre o dadaísmo e o surrealismo.
São vários os casos do estranhamento da imagem habitual do corpo e a justaposição de seres e
objetos.

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Grete Stern. Idílio no 84, 1950. (sem numeração e sem legenda).

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Grete Stern. Sonho no 28: Amor sem ilusão. Idílio no 64, 1950 – “Os sonhos sobre transposições”.

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Grete Stern. Sonho no 31: Made in England. Idílio no 101, 1950 – “Os sonhos com pincel”

A frustração expressa-se também em imagens que colocam em contraste os desejos de independência
e de desenvolvimento pessoal da mulher de classe média e seu confinamento ao trabalho doméstico.
Mulheres que se sentem destinadas a outros horizontes mas não conseguem concretizar suas
aspirações. Uma mulher dentro de uma gaiola está a vontade com o próprio encarceramento dentro
da vida doméstica, outra, a jovem – abajour, revela a conversão da jovem a um objeto utilitário e
decorativo, sendo manipulada por uma gigantesca mão masculina. Estes são ambos índices da crítica
feita por Stern à condição feminina e que evidenciam uma mulher em conflito com seu papel social,
crítica que por sua vez não aparece nas análises de Rest, de tendência mais conformista.

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Grete Stern. Sonho no 45: Sem titulo. Idílio no 47, 1949 – “Os sonhos sobre aprisionamento”.

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Grete Stern. Sonho no1: Artigos elétricos para o lar. Idílio (sem numeração e sem legenda).

Por outro lado, as conotações sexuais algumas vezes presentes nas fotomontagens, estão ausentes nas
análises de Rest, que tratam os temas ligados à sexualidade com explícito pudor. A sexualidade
também presente nessas narrativas é tratada com reserva pelo consultor que não emprega termos
como libido ou sexualidade em suas análises, preferindo o uso de expressões como
“transbordamento das energias instintivas”.
Grete Stern manifesta em várias oportunidades sua independência em relação a interpretação verbal,
transformando o roteiro fornecido por Germani em ponto de partida para uma elaboração própria e
original. Mais do que ilustrar os conceitos psicanalíticos, sua intenção é de operar uma subversão da
visão corriqueira da realidade graças a criação de uma “imagem sonhada”. (Fabris, 2009) Ela busca
através de seus deslocamentos e associações uma maneira de discutir a situação da mulher na
sociedade patriarcal, propondo uma reflexão de alcance social e psíquico mais abrangente.
Transitando entre as concepções dadaísta e surrealista de fotomontagem – que se articulam sob o
enfoque da recusa da convenção e pela valorização da invenção, Grete Stern consegue em vários
momentos provocar um choque e um estranhamento na percepção do observador, revelando-se
então como uma sonhadora, sonhando sonhos dentro de sonhos.

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Grete Stern. Sonho no5: Garrafa do mar. Idílio no 80, 1950 – “Os sonhos sobre inibições”.

Referências Bibliográficas:
Os Sonhos de Grete Stern: fotomontagens: textos de Jorge Schwartz, Grete Stern, Luis Príamo, Maria
Moreno, Annateresa Fabris e João Frayze. São Paulo: Museu Lasar Segall, Imprensa Oficial, 2009.
CRISTOFARO, Valéria de Faria. Fotomontagem: da sala escura ao ciberespaço. Brasília, Dissertação de
mestrado – UnB, 1998.
GIMFERRER, Pere. Max Ernst. Rio de Janeiro: Ao livro técnico, 1983.
RICHTER, Hans. Dadá: Arte e Antiarte. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
O Princípio Colagem. Catálogo de Exposição. Instituto Goethe, 1988.

Conheça o blog da minha querida Adriana:
http://adrianapeliano.blogspot.com

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Queen Bohemian Rhapsody Old School Computer Remix


Grete Stern. Sonho no 42: Sem titulo. Idílio no 12, 1949 – “Os sonhos sobre perigo”

Nunca imaginei que postaria qualquer coisa relacionada ao grupo
inglês "Queen" aquí nesse espaço de alucinações, mas este video
quebra todas as regras!
Até que ponto um nerd pode chegar?
Isso é genial e ultrapassa as barreiras do inusitado.
E nas palavras do autor:
"Isto é dedicado a todos os fãs do Queen e, hey, não vamos esquecer
de Mike Myers e Dana Carvey do Wayne's World.
Não houve efeito ou amostragem.
O que você vê é o que se ouve.
Atari 800XL foi utilizado para levar o piano / órgão som
Texas Instruments TI-99/4a como a lead guitar
8 de polegada disquete como Bass
3,5 polegadas Harddrive como o gongo e um
HP ScanJet 3C foi utilizado para todos os vocais.
Observe que eu tinha que gravar o scanner HP 4 tempos distintos para cada voz.
Tentei comprar 4 HP scanners, mas por alguma razão vendedores no E-Bay
esperam que você pague R $ 80 - $ 100, mas eu tenho uma mina de US $ 30.
Sempre ouço partes da música fora de sintonia.
Tenha em mente que o "scanner" e unidade de disquetes não são instrumentos musicais.
Estes são dispositivos mecânicos cujos motores tendem a deriva e pode causar
algumas notas fora do tempo."

Nenhuma palavra mais é necessária.
Só gostaria de saber quem fez...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

CHIYO OKUMURA - It's regrettable, but happy - USA/JAPAN

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Chiyo Okumura é conhecida como a resposta japonesa à cantoras dos anos 60,
como France Gall, Sylvie Vartan ou Dusty Springfield.
Ela foi muito popular no Japão entre 1965 à 1971, e até chegou à fazer aparições
em 3 filmes moderninhos da época, contracenando com atores famosos de seu país.
como: Gen Shimizu, Yutaka Sada, Ryuji Kita and Kei Tani.
O exemplo clássico universal da garota bonitinha, modelo, atriz, cantora e só perde para
a Cláudia Raia porque não era bailarina e coreógrafa...pfff

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Mas, falando sério, a moça tinha talento.
Dona de uma voz poderosa, seus hits tinham bastante groovy e não deixavam
a desejar para suas concorrentes ocidentais.
Tem uns palhaços por aí, digo no Brasil, que querem vender a idéia de que seu
trabalho se enquadra dentro do contexto da psicodelia, mas isso é uma pura bobagem.
Seu estilo é o pop, ao moldes de Bucharach.
Uma versão mais dançante às vezes de Carpenters.
A realidade é que, quanto mais se tenta explicar, mais bobagem se fala.
Esse disco é uma coletânea lançada mais recentemente, relembrando a gatinha e a
apresentando aos ocidentais babões e as bichinhas descoladas.
Divirtam-se com o charme dessa japan sixtie girl.



Bacana demais esse video! (Gostaram da minha crítica? hahahahaha)

Seguem outras capas da boneca:

Picture 1

Picture 2

Picture 4

Picture 5

Picture 6

Picture 7

Chiyo Okumura pra ouvir aqui
 
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