domingo, 9 de agosto de 2009

José Mário Branco - Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades - Portugal - 1971

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Ao contrário de certos artistas Brasileiros, o cantor e compositor
Português, José Mário Branco, durante seu exílio na França de durou
do ano de 1963 à 1974, produziu este belíssimo e inspirado disco.
Mais específicamente no ano de 1971.
Soa como uma mistura de música medieval com fado, toques de música
concreta e blues.
Filho de professores primários, cresceu no Porto e frequentou o curso
de História, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,
que não concluiu.
Expoente da música de intervenção portuguesa (música de protesto),
iniciou a sua carreira durante o Estado Novo, tendo sido perseguído e exilado.
Com ele trabalharam José Afonso, Sérgio Godinho, Luís Represas, Fausto
e Camané, entre outros, com os quais participou em concertos ou em álbuns
editados como cantautor e/ou como responsável pelos arranjos musicais.
Igualmente compôs e cantou para o teatro, o cinema e a televisão.
Em 1974 fundou o GAC - Grupo de Acção Cultural com o qual gravou dois álbuns:
A cantiga é uma arma (G.A.C) (1976)
Pois canté! (G.A.C.) (1977)
Entre música de intervenção, fado e outras, são obras suas famosas os discos
Ser Solidário, Margem de Certa Maneira, A noite e o emblemático FMI,
obra síntese do movimento revolucionário português com seus sonhos e desencantos.
Esta última foi pelo próprio proibida de passar em quaisquer rádio, TV ou outro
tipo de exibição pública. Não obstante este fato, FMI será, provavelmente, a sua obra
mais conhecida.
O seu álbum mais recente, lançado em 2004, intitula-se Resistir é Vencer
em homenagem ao povo timorense que resistiu durante décadas à ocupação
pelas forças da Indonésia logo após o 25 de Abril. O ideário socialista está expresso
em muitas das suas letras.

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Tracklist:

01 - Abertura/Cantiga para Pedir 2 Tostoes
02 - Cantiga do Fogo e da Guerra
03 - O Charlatão
04 - Queixa das Almas Jovens e Torturadas
05 - Nevoeiro
06 - Mariazinha
07 - Casa Comigo Marta
08 - Perfilados de Medo
09 - Mudam-se os Tempos, Mudam-se As Vontades

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Post com a colaboração do Mestre Yupo

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Sempre estarei divulgando lá os posts e muito mais.
Não costumo ficar conversando fiado e dizendo bobagens
que estou pensando.
Só uso para divulgar coisas interessantes e me comunicar
com os amigos.
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sábado, 8 de agosto de 2009

Jorge Antunes - Música Eletrônica - Brasil - 1975

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Com muito orgulho apresento aqui um pouco do momento pioneiro
do compositor Brasileiro Jorge Antunes.
Seu trabalho é motivo de muito orgulho para nós Brasileiros amantes
da música de vanguarda e revolucionária.
Saibam que estão diante do primeiro disco de Música Eletrônica produzido
e lançado no Brasil. Só isso já seria um excelente motivo para culto.
Mas nosso país possui a séria tradição de não ter tradição.
De ignorar a obra e a vida de pessoas que não se enquadram dentro
da estrutura mercadológica de domina nossa cultura.
Jorge Antunes é um bom exemplo de alguém que resolveu esquecer
tudo isso e criar seus próprios veículos de divulgação e de lançamento
seu trabalho. Isso muito antes da internet.
Ele resolveu ser independente e ignorou os "DEPENDENTES".
Segue abaixo o texto publicado na contra-capa do LP.

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Hoje a internet nos dá essa possibilidade de ter a própria voz, mas, mesmo
descobrindo essa possibilidade de liberdade, a maioria das pessoas ainda
preferem a dependência de precisarem pensar ou sentir dentro de moldes
sociais e não particulares.
Em 1975 esse não era o caso do jovem brilhante e contestador Antunes.
Para entender melhor e matar algumas curiosidades, resolvi procurar
o próprio que foi altamente atencioso em colaborar com nosso blog.
Segue a entrevista.

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PB: Antunes, você com certeza já construía seus instrumentos e
equipamentos e produzia suas gravações e composições desde o
final dos anos 50. Como aconteceu a oportunidade de gravar seu
primeiro disco "Música Eletrônica" em 1975?
Era algo que você almejava muito?
Eu gostaria que você contasse tudo que você se lembra sobre quem
se interessou a lançar o seu trabalho e quais motivações você acha que
essa pessoa tinha?

JA: Na verdade, não foi no final dos anos 50 que comecei a construir equipamentos
para fazer música eletrônica: foi no início dos anos 60. Foi, mais exatamente,
em setembro de 1961, quando construi um teremim, um gerador de ondas
dente-de-serra e um reverberador de mola.
Saí do Brasil em março de 1969, depois da demissão no IVL e depois de muitas
perseguições do regime militar, após o AI-5 de dezembro de 1968.
Voltei ao Brasil em junho de 1973 e, a partir de então, comecei a buscar
gravadoras que pudessem se interessar em publicar o primeiro disco
brasileiro de música eletrônica.
Mandei cartas para a Continental, a Copacabana, a WEA, a Mangione, a Padrão,
a Musidisc, a Gaetani, a RGE/Fermata, a Chantecler, a Everest, a Pawal, a Top Tape,
a CBS, a Phillips, a RCA e a Odeon.
Acompanhando cada carta enviei um carretel de fita de rolo,
com as minhas músicas eletrônicas.
Foi um ano de espera. Recebi 15 cartas negativas e, ... milagre, uma positiva.
Era a carta da gravadora Mangione Discos.
Foi assim que saiu o disco.
Vim a saber, mais tarde, que o Sr. Mangione havia pedido opinião do
Francisco Mignone, pois este já tinha discos publicados pela Mangione.
Mignone deu apoio a meu pedido, recomendando fortemente a edição ao Sr. Mangione.


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PB: Me diga, como foi a reação do público?
Quem eram os consumidores deste LP na época?
Chegou a ser vendido em lojas convencionais?
Foi recuperado o investimento ou isso não era uma preocupação?
Essas perguntas interessam mais aos colecionadores de discos, por isso, não estranhe.

JA: Os consumidores eram poucos. Na época saiu uma matéria e entrevista comigo,
sobre o disco, em página inteira da revista Veja. Mesmo assim vendeu muito mal.
Chegou a ser vendido, sim, nas lojas comerciais, pois a Mangione tinha boa distribuição.
Não sei qual foi a tiragem e não sei se houve recuperação do investimento.
Mas, creio que houve.
Um fato pitoresco conto a seguir.
A Mangione conseguiu vender 120 exemplares ao Itamaraty, através do
Departamento Cultural que era dirigido na época pelo Celso Amorim, atual Ministro de
Relações Exteriores. A intenção era distribuir o LP a todas as Embaixadas do Brasil no
exterior, para divulgação. Mas eu soube, anos mais tarde, que quase todos os discos
chegaram quebrados às Embaixadas. O funcionário que cuidava dos envios pela mala
diplomática não fazia nenhuma embalagem especial para os discos.


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PB: Fale-me um pouco sobre a capa. Os grafismos sugerem uma partitura.
Era de fato, ou apenas uma arte sugerindo feita por Joselito?
Alguma história sobre a foto? Foi produzida especialmente para o disco ou já existia?

JA: A capa foi feita pelo Joselito. Esse era um profissional capista, que era muito
conceituado no meio. Ele fazia capas para várias gravadoras. Os grafismos são
estilizações que ele fez a partir de notações musicais da partitura de Cinta Cita,
música eletrônica que está no disco. Essa música, se não me engano, é a única
música eletroacústica brasileira para a qual se fez partitura. Tenho ela ainda hoje,
que se encontra disponível na Editora Sistrum (sistrum@sistrum.com.br).
A foto foi feita pelo próprio Joselito especialmente para o disco.
Posei em seu estúdio no Rio de Janeiro.


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PB: Quais eram as suas expectativas em relação ao lançamento?
Era um momento em que as pessoas estavam mais dispostas e abertas
e viam a música eletrônica como algo revolucionário, ou as dificuldades
de se trabalhar com essa linguagem eram ainda maiores?

JA: Não houve um lançamento oficial, como tradicionalmente se faz.
Saiu o disco, foi distribuido, e pronto.
Na época a Mangione tinha representantes em diversos estados,
que trabalhavam a distribuição de loja em loja.
Sim, as pessoas viam tudo como algo revolucionário.
Acho que foi por isso mesmo que não houve muito consumo.
Houve, sim, muita badalação na imprensa.
Páginas inteiras de jornais, na seção de Cultura, foram ocupadas
por matérias e entrevistas: Correio Braziliense, Veja, Estadão, Folha, o Globo e JB.


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PB: Qual a importância desse disco como divulgação de suas obras
para a sua carreira?
Portas se abriram por ser o primeiro a ser lançado com esse tipo
de conteúdo no Brasil?

JA: Não percebi e não percebo qualquer importância, no disco, para minha carreira.
Portas não se abriram. Acho que foi assim simplesmente porque não existiam portas.
Se houvessem, elas se abririam. Naquela época, tal como hoje, só existiam janelas.
Janelas, panelas, janelinhas, panelinhas.
Tal como hoje, os protegidos pelo sistema entravam pela janela.
Em 2002 pedi, na ABIN, meu habeas-data.
Ao receber li apavorado que o SNI seguia meus passos sempre, desde 1965 até 1988.
O habeas-data está reproduzido, como apêndice, no livro do Gerson Valle intitulado
“Jorge Antunes, uma trajetória de arte e política”.

No disco estão obras que eram consideradas “subversivas”.
Tentei disfarçar, por meio da auto-censura.
Observe que no disco duas das músicas têm, no final dos títulos,
as breviaturas: BRLXX3 e VRSBR73.

BRLXX3 quer dizer, veladamente, como código secreto: Brasil 1973.
VRSBR73 quer dizer, veladamente, como código secreto: Versão Brasil 1973.

Então, os títulos estão assim:

HISTÓRIA DE UN PUEBLO BRLXX3 - Essa é uma versão auto-censurada de minha obra
“História de un pueblo por nacer o Carta-abierta a Vassili Vassilikos y a todos los pesimistas”.
No final da obra original existe um cânone com a primeira frase d'A Internacional.
Na versão incluída no LP eu cortei esse trecho.

AUTO-RETRATO SOBRE PAISAJE PORTEÑO VRSBR73 -- Essa é uma versão auto-censurada
de minha obra “Auto-retrato sobre paisaje porteño”.
No final da obra original eu uso um discurso, com minha voz, em que eu faço
um jogo fonético com as palavras Geral e General, como referência aos Generais
que mandavam no Brasil na época. Na versão incluída no disco eu que cortei esse trecho.

Será interessante comparar a versão que está no disco LP de 1975, com a versão original que,
hoje, já pode ser ouvida na Internet, no site:
http://www.americasnet.com.br/antunes/auto-retrato/


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Agora um pouco de Jorge Antunes falando sobre sua preciosidade presente na foto acima:
JA: O meu EMS SYNTHI A está funcionando maravilhosamente.
Comprei em Londres em 1971.
Ele pifou em 1980, num incêndio no apartamento em que eu morava na 107 Norte.
Meu filho Mauritz, então com 9 anos de idade, ateou fogo numa cortina,
e meu escritório lambeu. Partes do sintetizador derreteram: botões, diodos, pinos etc.
Em 1982 fui a Londres e comprei as peças para recuperação.
Deu tudo certo. Em 1986 um curto-circuito interno, com uma perna de um diodo
encostando no tampo metálico do fundo, fez derreter de novo alguns componentes.
Em 2005 tive um projeto de espetáculo (Speculum Brasilis) aprovado nos CCBBs
do Rio e de Brasília, em que eu pretendia usar o Sintetizador analógico,
junto com meu lap-top com Pro-Tools e GRM-Tools.
Encontrei o endereço do Robin Wood em Londres. Ele era o fabricante dos EMS.
Por e-mail ele me instruiu. Desmontei e enviei as duas placas para ele por correio.
Dois meses depois me devolveu com tudo consertado.
Não posso me desfazer desse meu amor. É uma de minhas paixões.


Segue abaixo um bom exemplo da postura de Antunes resistente ao
modus operandi do mercado fonográfico e a relação do artista com
os críticos e jornalistas.
Essa carta foi encontrada dentro de uma cópia do LP citado na mesma.

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Todas as imagens deste post que não aparecem na capa do LP
foram extraídas do livro abaixo que pode ser comprado no site da SISTRUM.

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Tracklist:
01 - HISTORIA DE UN PUEBLO (BRLXX3)
02 - CINTA CITA
03 - AUTO-RETRATO SOBRE PAISAJE PORTEÑO
04 - VALSA SIDERAL
05 - CONTRAPUNCTUS CONTRA CONTRAPUNCTUS

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