Todo mundo sabe que, morar em São Paulo - Capital é o mesmo que que viver dentro de um oceano de radio-frequências e fortes emissões de ondas eletromagnéticas...
Em 2003, morando perto da Rua Consolação com a Paulista, eu circulava muito a região e, como sempre, ouvindo música no meu discman. Falo de uma era anterior ao Ipod. É incrível pensar, mas ela já existiu... Um fato curioso e frequente me acontecia, caminhando pela Av. Paulista, eu sempre ouvia, misturado ao som do cd que eu estava rolando nos meus fones de ouvido, uns ruídos eletrônicos que as vezes eu podia jurar que faziam parte da música.
Frequentemente eu cheguei a pensar: "Nossa que ruído legal. De onde será que vêm?" Claro, bastava olhar pra cima e enxergar as gigantescas antenas que me faziam lembrar do controle que elas tinham dominando a mente da população. Mas isso são considerações mais abstratas...
O fato é que o equipamento que eu usava pra ouvir música andando na rua tinha sensibilidade para tornar audíveis algumas interferências provocadas pelas antenas gigantescas que habitam os telhados de nossa importante avenida. E como estes sons me pareciam bastante interessantes, logo pensei: "Preciso transformar isso em música!"
Na época eu trabalhava intensamente com meu grupo de improvisação eletrônica LCD e a linguagem que mais curtíamos trabalhar era o ruidismo. Bolei o seguinte procedimento: Gravei um cd com silêncio no meu gravador de cd de mesa. Coloquei este cd no discman em loop e a saída de fone dele conectei no input de um minidisc portátil que tenho até hoje, e na saída de fones do minidisc eu podia ouvir o que estava rolando de ruídos.
Foi perfeito! chamei o colega de banda Eloi Silvestre pra passear um sábado comigo dando um rolê pra ver o que a gente conseguia "pescar" de zumbideira pela Paulista e região.
Aí a coisa toda vêio com força, se é que vocês me entendem... O material captado ficou bem interessante e surpreendente. Era como algo vivo, mas invisível que podia ser registrado naquele ato. Uma espécie de fantasmas eletrônicos nos rodeando e transpassando no corpo, se misturando com nossas células.
Após muito andar pra lá e pra cá, percebemos que os ruídos tinham particularidades sonoras e variações de frequência de antena pra antena e até podíamos "tocar" os ruídos alterando a posição do discman no ar, subindo, descendo e etc. Logo o eloi lembrou do Metrô e descemos pra ver se lá dentro também haviam transmições que podíamos registrar com nossos parcos equipamentos.
e claro que lá, debaixo da terra, também havia um rio de frequências e interferências eletromagnéticas.
Com certeza emitidas pelos aparelhos de monitoração e controle dos trens. Ficamos igual dois palhaços captando tudo isso, até que fomos tocados de lá de dentro pela segurança. Mas estávamos tranquilos porque não haviam nenhuma má intenção no nosso ato, apenas estavamos deslumbrados com os ruídos que apenas nós poderíamos escutar e apreciar.
O próximo passo foi levar esse material para nosso estúdio, onde cada integrante do grupo, com seus próprios recursos mentais e tecnológicos disponíveis, editamos e reprocessamos para transformá-los em "objeto sonoro" para ser utilizado em improvisação livre aos nossos moldes. Apesar das fontes sonoros serem as mesmas, cada um conseguiu criar uma pluralidade suficiente para gerar contrastes formando a complexidade da música que vcs podem baixar nesse cd, aquí chamado "INTERFERÊNCIAS".
Diga-se de passagem, ainda existem cópias físicas deste disco para ser vendido por 10 reais, numa tiragem em CD-R e capa plástica silcada com o desenho da designer Clarissa Tossin.
Um bom exemplo de como o grupo LCD costumava trabalhar é o video abaixo produzido por Kiko Araújo com câmeras de segurança. É um trabalho um pouco diferente de "Interferências" mas mostra um pouco do nosso ritual tecnológico de improvisação.
Um comentário:
cara, nem ouvi ainda, mas soh lendo o post jah achei FODA demais!! ouvirei e deixarei minha opiniao. abra
henrique
gladgirls.blogspot.com
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