terça-feira, 29 de setembro de 2009

Clássicos da Fronteira Vol.1 por Marco Gaspari

classicos2

Bom, uma vez convidado para colaborar neste conceituado blog,
quero começar em grande estilo: puxando o saco do blogueiro.
Para isso selecionei três curiosidades eletrônicas (som eletrônico
cabeça, me parece, é a praia do PB). Mas se você, caro leitor ouvinte,
não é muito chegado nos fiummm... bóing... pumpum... pumpum...
típicos do gênero, fique tranqüilo que todos os sons têm um pezinho no rock.
Como não são álbuns muito fáceis de achar nem mesmo em CD, tente
compreender que os eventuais fiummm... bóing... pumpum... pumpum...
alheios à música são de inteira responsabilidade do vinil.

EN EL OMBLIGO DE LA LUNA – MUSICA DE AUTOREFLEXION
LUIS PEREZ

perezfolder

Prepare seus ouvidos para o desconhecido: sons de instrumentos
pré-colombianos originários das mais variadas regiões do México
mesclados a toda uma parafernália sonora pós-chapoliniana
(câmaras de eco, frequency analyser, phase shifter, shin-ei, gong, guitarra,
baixo elétrico...).

O compositor, arranjador e único músico desta belezinha chama-se
Luis Perez Ixoneztli.
Ele nasceu em 1951 na Cidade do México e passou uma vida estudando as
tradições musicais dos grupos étnicos mexicanos.

Em 1977 juntou-se a Julio Estrada na formação do Grupo Experimental
Mexicano, que tinha como marca registrada dar um tratamento eletrônico
ao uso de instrumentos autóctones. Algo como música experimental + rock
+ antropologia sonora.

A primeira edição do seu disco solo Ipan in Xiktli Meztli
(é o nome desse álbum no idioma náhuatl) foi lançada em 1981 e bancada
pelo governo federal, com uma capa muito bonita e uma arte bem bacaninha
tomando todo o miolo. Mas como acontece com todos os governos, eles mais
prejudicaram do que ajudaram Luiz Perez. O disco não chegou às lojas e virou
presentinho para os amigos. Perez então foi obrigado a providenciar uma nova
edição (a que ilustra este texto) e aí sim teve o reconhecimento que merece.

No encarte do disco aparece a etimologia da palavra México:

Metztli = Lua
Xiktli = Umbigo
Ko = indicativo de lugar

Dei uma resumida na explicação de Perez: metaforicamente México quer dizer
“no umbigo da lua” ou “no centro do lago da lua”, pois o contorno dos antigos
lagos que formavam a bacia fluvial mexicana tinha a forma de um coelho,
semelhante à silhueta formada pelas manchas lunares vistas da Terra.
E como a grande cidade de Tenochtitlan ficava no centro desses lagos,
simbolicamente ela estava localizada no umbigo do coelho lunar.

Coisas do México mágico, antes do homem branco estragar a festa.

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LÁCTEA
TÓ NETO

tonetofolder

Este disco tem uma grande virtude: é um pioneiro.

Ele é considerado o primeiro disco de música eletrônica a ser gravado em Portugal.
E olha que o cara nem patrício era e sim angolano, nascido na capital Luanda em 1951.

António Eduardo Benedy Neto era filho de pai engenheiro e cientista chegado
a pesquisas nas áreas de informática e música eletrônica. Dá para imaginar
então que os sintetizadores do pai já estavam entre os primeiros brinquedinhos
do pirralho Tó Neto.

Em 1973, aos 22 anos, muda-se para Portugal e dez anos depois lança seu
disco de estréia: Láctea, em pleno boom do rock português.
A foto da capa foi feita no Planetário Calouste Gulbenkian,
onde a obra foi apresentada ao vivo pela primeira vez.

toneto

O que se ouve neste disco é uma mistura de passado e futuro.
O futuro é representado pelos aparelhos eletrônicos que o artista
domina com maestria, e o passado pela rica presença, até mesmo sentimental,
de sua herança rítmica africana.

Esta viagem pela Via Láctea, apesar de vibrante e bastante influenciada pelo
rock progressivo dos anos 70, soa um tanto datada aos ouvidos deste nosso novo século.

Mas como eu gosto bastante dessas coisinhas curiosas, direi com toda a
pompa que se trata de um futurismo retro. Seja lá o que isso quer dizer, ora pois.

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LA BUSQUEDA – SINFONIA LATINA EM ROCK...
FRANCISCO ZUMAQUÉ

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No seu blog no myspace, Francisco Zumaqué se auto define como um músico de
raízes camponesas e populares. Mas não se iluda com a modéstia deste sexagenário
senhor (nasceu na cidade de Córdoba, na Colômbia, em 1945).
Na realidade se eu fosse enumerar aqui todo o seu currículo e discografia,
o PB teria que pedir espaço emprestado a algum blog amigo.

Vou resumir dizendo apenas que ele está entre os 100 colombianos mais
importantes do século passado.

Com relação à música eletrônica, Zumaqué estudou eletroacústica com os
mestres Pierre Schaeffer e Guy Reibel no Groupe de Recherches Musicales (GRM) de Paris,
além de composição rítmica com Olivier Messiaen e direção de orquestra com Igor Markevich.

Esse disco chamado “La Búsqueda” foi composto para uma peça de teatro, uma
adaptação do livro homônimo de Alfonso Lara Castilla encenada no México em 1982.

busqueda

Como o conteúdo do livro caminha entre o esoterismo e a auto-ajuda,
a música composta por Zumaqué sugere algo espiritual e relaxante.
Porém, não se iluda novamente porque vez por outra tudo descamba para o rock.

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marco
Marco Gaspari é dono da loja Mister Sebo e é tão usado quanto os artigos que vende.
Também escreve para a revista poeiraZine.

3 comentários:

Unknown disse...

Rapaz, que belo post!

Não ouvi nada ainda, mas de cara achei tudo muito interessante!

Parabéns Marco e espero vê-lo aqui por mais vezes!

Gui disse...

Cheguei atrasado na conversa, mas adorei o post também. Gostei principalmente do Luis Perez. Trippy.

Gui disse...
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