Eu tive um primeiro "mestre" da música bizarra que era um carioca
que tinha o apelido de "Mister Hawk", (por gostar muito da banda Hawkwind).
Certa vez eu estava elogiando muito Robert Fripp do King Crimson como sendo
o guitarrista mais genial de todos os tempos e ele disse:
"Vc precisa conhecer o Fred Frith, porque ele é infinitamente melhor!"
Claro que não acreditei. Primeiro que eu achei que ele estava tirando sarro
da minha cara. Fripp...Frith...
Depois, se ele era tão mais incrível, como eu nunca tinha ouvido falar?
Esse sempre foi o meu sintoma básico de ignorância: realmente pensar
que sabia tudo.
Quase 10 anos depois em Belo Horizonte, fui com o amigo Jeff Kaspar
numa sessão no Cine Usina onde estava rolando uma mostra
de filmes Suíços e não tinha nem idéia do que ia assistir.
Era um filme chamado "Step Across The Border" e era exatamente sobre
o guitarrista Fred Frith, suas músicas, seus amigos, o clima de improvisação
que rolava em sua turma, filmado maravilhosamente em preto e branco
e com uma lógica de montagem que o diretor chamou de
"improvisação cinematográfica".
Fiquei fascinado, especialmente pela participação da tcheca Ivá Bittová
que passei a vida tentando conseguir seus discos.
Felizmente hoje os tenho em cds, mais um dvd fantástico.
Ainda sim, o filme não era informação suficiente sobre Frith para que eu
morresse de amores por seu trabalho.
Mais dez anos se passaram e eu me envolvi com as práticas de improvisação
musical de forma mais consistente e fatalmente cruzei novamente com informações
sobre ele, suas técnicas, suas parcerias e seus incríveis discos.
Ao mergulhar mais profundamente no estilo R.I.O. (Rock in Opposition), que
hoje em dia gosto tanto, comecei a perceber que seu nome era um
grande pilar do gênero.
Eu sempre soube vagamente que, ele e seu amigo Chris Cutler (dono
do selo Recommend Records) eram ex-integrantes de uma banda chamada
Henry Cow que até então eu fingia que conhecia.
Até conhecer pessoalmente o Chris Cutler já tinha me acontecido.
Assisti ele tocar com um projeto chamado The Nudes em 1992 no festival
Brief em Belo Horizonte.
Resumindo, eu continuava sendo o grande idiota que achava que conhecia
muita coisa de música alternativa, ou pelo menos o melhor dela.
Hoje em dia eu preciso encher a boca pra dizer:
Frith é gênio e Fripp uma anta estúpida.
Só que Fred Frith nunca quis ser a estrela e por isso esteve mais comprometido
com a qualidade e o mergulho mais radical em sua musicalidade.
É um dos artistas mais modernos e à frente de seu tempo que eu já ouví falar.
Como se não bastasse o Henry Cow ser maravilhoso, uma espécie de progressivo
ultra-moderno, ele foi um dos músicos integrantes orquestra rock que levou
pros palcos a obra "Tubular Bells" de Michael Oldfield ao lado de Steve Hillage
na guitarra eletrica, e ainda teve outras bandas incríveis chamadas SLAPP HAPPY
e ART BEARS.
Nos anos 80 ele participou de vários discos e projetos
incríveis como MASSACRE, LES 4 GUITARRISTS DE L'APOCALYPSO, SKELETON
CREW, MATERIAL, GOLDEN PALOMINOS, NAKED CITY (como baixista) e isso
pra citar as coisas que conheço bem de minha coleção de vinis, mas sei que
ainda houve muito mais.
Ele ainda continua tocando incrivelmente em projetos como DEATH AMBIENT,
produzindo trilhas para filmes experimentais, lecionando nos Estados Unidos,
improvisando com artistas de jazz e desenvolvendo seu trabalho como
compositor erudito. O grupo MASSACRE ainda existe também e lança um Cd
à cada 5 anos pelo menos.
Esse disco aquí postado nunca foi relançado em cd e foi lançado originalmente
no Japão pela divisão Japonesa do selo Recommended Records Japan.
Como mostra a foto abaixo, é uma edição de 2 LPs que vinham dentro de
uma caixa de papelão com um livrinho de papel Kraft postado em seguida.
Nessa época ele desenvolvia solo apresentações de improvisações utilizando
técnicas de tocar guitarra inspiradas nas pesquisas de Derek Bailey, mais
específicamente o "Table Guitar" que consistia em apoiar a guitarra numa
mesa e prepará-la e toca-la com objetos cotidianos com o objetivo de
criar texturas inusitadas para a guitarra que vão dos timbres percussivos
ao ruidismo puro.
Esse disco é parte do registro de suas primeiras apresentações no Japão.
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À partir daquí já é um bonus especial para os fãs.
As imagens à seguir são uma revista que apresentava
seu trabalho para o público japonês que era distribuída
para as pessoas no show.
Por muita sorte temos acesso à isso graças ao amigo
e colaborador do blog, o Yupo, que ganhou no Japão
enquanto morava lá.
Ele teve a sorte de vê-lo tocar ao vivo algumas vezes
e uma vez até o ajudou a carregar seu equipamento, rs.
Quem me dera...
Ele hoje vive na Alemanha, provavelmente porque se casou com uma alemã.
Fred Frith não é apenas um dos músicos mais geniais que surgiram
dos anos 70. Ele é das pessoas envolvidas com música mais humildes e
seguras do que buscam, e com certeza não é o estrelato.
Tracklist:
OSAKA I
OSAKA II
OSAKA III
FUKUOKA I
FUKUOKA II
MAEBASHI I
FUKUOKA III
TOKYO I
experimente issoPost com a colaboração do Mestre Yupo
10 comentários:
porra que disco bonito!
ow, o Damo Suzuki tinha cancelado mesmo aquele show, ou me enganaram? Se sim (que ele cancelou, não que me enganaram), quando vai ser o novo?
PPedro
Puxa, desculpe não ter postado aquí a nova data do show...
Foi terça passada.
Tinha tanta coisa pra fazer que não deu tempo de postar.
Filmamos tudo com qualidade e gravamos o audio em 16 canais se isso puder servir de consolo...
ezelente.
Muito bom eu sou um fã de fred frith/zorn/naked city/slap happy/henry cow/art bears/skeleton crew/.......
e já vi ao vivo frith e zorn, dagmar krause /chris cutler/wayne horvitz/bill frisell.......
UM ABRAÇO
Você foi mais bonzinho com o Michael Jackson do que com a ant, ehr,com o Robert Fripp!
Cara, muito bom o post. Me ligo muito em R.I.O e muito em Aksak Maboul,Renaldo & The Loaf, Snakefinger, The Residents. Podemos trocar figurinhas, salve!
Legal!
Vc pode me achar no facebook com o nome de paulo beto.
abraço
Muito infelizmente o link está inativo. Se possível faça um re-up, gostaria muito de ouvir esse disco. Parabéns pelo blog.
hey .. aca desde argentina ..
muy buen post .. geniales los scans del librito ..
me voy a dar una vuelta en el blog a ver que otra cosa encuentro
abrazos
Cara, você é de BH? Então, também sou colecionar de Avant-Gard e R.I.O. Como consigo seu endereço eletrônico para trocarmos uma idéia? Abraço!
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