quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
JON APPLETON, HAPPY BIRTHDAY!!! por Vanderlei Lucentini
Jon Appleton
Jon Appleton completou no dia 04/01 71 anos. Mesmo não tendo sido convidado
para essa festa, resolvi aparecer de bicão. Encontrei Jon pela última vez
na solidão do aeroporto de Cumbica em meio a um clima de medo,
temor-morte pós 11 de setembro. Num mundo protegido por muralhas e cercado
por arames farpados.
Momento diametralmente oposto ao que convivemos, por pouco tempo, nos Estados
Unidos sob a atmosfera politicamente correta, em voga, dos tempos de Bill Clinton.
Respiramos um pouco aliviado, talvez eu seja um privilegiado, ou me sentia assim,
em ter conhecido um cidadão-mundo tão intrigante, controvertido, contraditório,
idealista, apaixonado/apaixonante, gentil, rude, engraçado e principalmente uma
pessoa generosa com todos os estudantes que ele levou pra desenvolver as suas
potencialidades tecno musicais no
Bregman Studio do Dartmouth College em Hanover-NH.
Senhor de um grande carisma que envolve todos os que o cercam.
Um lovely guy andando no fio da navalha em toda sua existência,
talvez algum dia, também, num trem da Central (CPTM).
Estivemos envolvidos em muitas discussões estético-existencial,
aliás continuamos discutindo, só que hoje muito raramente.
Nesses papos cósmicos sonoros na atmosfera bucólica da Nova Inglaterra,
tivemos a oportunidade de flanar sobre muitos assuntos: o futuro da música,
(ou o fim da música eletroacústica?!?!?) as relações que cercam o poder, a política
internacional, os prazeres da carne, computadores, cognição e pesquisas acadêmicas.
Jon esteve algumas vezes no Brasil. Passou por São Paulo, Salvador, Curitiba e no
Embú na casa de Marlui Miranda. Como mostra as fotos abaixo...
O cara "pálida"
Jon ficou conhecido e reconhecido mundialmente pela invenção, juntamente
com Sidney Alonso e Cameron Jones do Synclavier, um sintetizador/workstation
digital que revolucionou a prática de fazer música. Synclavier que foi criado dentro
dos laboratórios do Dartmouth College, e posteriormente tornou-se uma iniciativa privada.
Sua utilização abrangeu um espectro que foi desde Michael Jackson (90% do álbum
Bad foi inteiramente gerado no Synclavier), passando por Oscar Peterson,
Laurie Anderson, Peter Gabriel, Frank Zappa chegando até as prática mais abstratas
experimentais dos estúdios de música eletroacústicas em muitas partes do mundo.
Zappa e o Synclavier
Quero falar, na verdade, um pouco da trajetória que ele desenvolveu como
compositor, professor e um dos maiores difusores da música eletroacústica.
Appleton é uma das poucos pessoas que pensaram profundamente as relações e
as implicações da tecnologia na música. Vai ser muito interessante conhecer
essa personalidade ímpar, para vislumbramos possiveis para um futuro próximo
para os nossos jovens músicos, que no presente momento estão envoltos
numa atmosfera provinciana, egóica e musicalmente inexpressiva.
Vamos nessa viagem, sem congestionamentos e alagões de fim de ano...
Little Bio
Jon Howard Appleton Howard nasceu em Los Angeles, California no dia 4 de janeiro
de 1939. É compositor, professor e um dos pioneiros da música eletroacústica.
Trafegando num meio sisudo que é o da música contemporânea (moderna),
Appleton inseriu alguns procedimentos que marcam a sensibilidade polissêmica
da nosso universo pós moderno. O humor, a paródia, a colagem, a paráfrase, a
perlaboração, a anamnese e a pulverização das constelações musicais.
Suas primeiras composições no meio, como, Chef d'Oeuvre e
Newark Airport Rock atraiu a atenção, pois estabeleceu uma nova vertente que
ficou conhecida como música eletrônica programático.
Primeiro estúdio de música eletrônica Dartmouth College (1967)
Em 1970 ele ganhou Guggenheim, Fulbright e as bolsas da
American-Scandinavian Foundation. Aos vinte e oito anos, ingressou no
Dartmouth College, onde ficou intermitentemente por quarenta e dois anos.
Nessa universidade, Appleton estabeleceu um dos primeiros estúdios de
música eletrônica nos Estados Unidos, conhecido como
Bregman Electronic Music Studio. Em meados da década de 1970,
deixou o Dartmouth College, e brevemente se tornou chefe da Stiftelsen
Elektronmusikstudion (SME), em Estocolmo, Suécia.
Sydney Alonso e Cameron Jones trabalhando no protótipo do Synclavier
Na década de 1970, juntamente com Sydney Alonso e Cameron Jones,
ajudou a desenvolver o primeiro sintetizador comercial digital chamado Synclavier.
A fim de mostrar esse novo sintetizador, passou uma década excursionando
pelos Estados Unidos e pela Europa executando as composições que ele
compôs para este instrumento.
Na estrada. Mesmo no Purple Haze todos temos um dia de Kombi
Nos anos 80, Appleton começou a compor, o que ele considera,
as suas mais significativas composições dentro da computer music e
live-electronic music. Muitos de seus trabalhos neste gênero tiveram
suas estréias em festivais, como os realizados anualmente pelo
Groupe de Musique Expérimentale de Bourges (França) e o Fylkingen em
Estocolmo, na Suécia.
Durante suas passagens por Bourges, Appleton se tornou membro fundador
da Confederação Internacional de Música Electroacústica. Estimulado pela sua
interação com compositores de outros países, criou uma organização similar nos
Estados Unidos, com a finalidade de difundir e elevar o status da música
eletroacústica dentro da hierarquia musical. Em 1984, juntamente com um
pequeno grupo de compositores que comungavam do mesma opinião,
Appleton ajudou a criar a Society for Electro-Acoustic Music in the United States
(Seamus), onde foi o seu presidente.
No verão de 1984, Appleton ajudou Moses Asch, fundador da Folkways Records,
la lançar suas primeiras gravações de música eletroacústica.
De acordo com os desejos de Asch, estas gravações continuam sendo
lançadas sob os auspícios da Smithsonian/Folkways.
I sing in the rain, ops... snow...
Na década de 90, demandou maior parte do seu tempo no exterior.
Na Russia, travou contato e implementou alguns centros de
desenvolvimento da música eletroacústica.
Em Moscou ajudou a fundar o Centro de Música Eletrônica
Theremin no Conservatório de Música de Moscou, onde leciona,
uma vez por ano.Appleton compôs, na mesma década, duas grandes
óperas para coro com 1500 crianças e orquestra profissional.
As obras, HOPI: La naissance de desert e Le Dernier Voyage de Jean-Gallup
de la Pérouse, foram regidas por Alain Joutard e encomendada pela
Delegation Departamental à la Musique et à la Danse do Consei General des
Alpes-Maritimes, em Nice, França. Foi professor na Universidade de Keio (Mita),
em Tóquio-Japão, CCRMA na Universidade de Stanford e na Universidade da
Califórnia em Santa Cruz. Em seus últimos anos dedicou parte do seu tempo à
composição de música instrumental e coral com uma coloração quasi romântica,
obra essa que tem sido amplamente executada na França, Rússia e Japão.
Ko Umezaki falando (abobrinhas?!) e Jon engolindo-as.
Papo cabeção é um saco em todo lugar.
Tendo fundado o programa de mestrado específico em música
eletroacústica no Dartmouth College com o compositor David Evan Jones,
em 1989, Appleton dedicou a maior parte do seu tempo dando aulas para
os alunos de mestrado neste programa. O objetivo do programa foi
combinar o estudo da composição, acústica, ciência da computação e
cognição musical. Ele acreditou que esta seria a sua grande contribuição
durante os quarenta e cinco anos como professor. Ele continua a manter
amizade com muitos de seus ex-alunos: Gerald Beauregard, Martin McKinney,
Ray Guillette, John Puterbaugh, Ted Coffey, Anu Kirk, Yuri Spitsyn, Ted Apel,
Kojiro Umezaki Steve Berkley, Vanderlei Lucentini (eu), Courtney Kennedy,
Ileana Perez , Kevin Parks, Colby Leider, Mateus B. Smith, Leslie Stone,
Tae Hong Park, Andrew Tomasulo, Paulo Botelho, Iroro Orife, Bruno Ruviaro,
Masaki Kubo, Will Haslett, Irina Escalante Chernova, Michael Chinen,
Kristina Wolfe, Aki Onda, Bill Russell Brunson e Pinkston.
Em 2009, Appleton aposentou-se do Dartmouth expressando
descontentamento e desentendimento com a direção acadêmica e administrativa.
O rolo compressor bushiniano chegou também as comunidades liberais acadêmicas.
Os espíritos não normatizados acabam sempre sendo expurgados em nome do
rigor burocrático. Nesse caso, o fantasma macartista que sempre ronda o
subconsciente norte-americano apareceu.
Os medíocres continuarão apertando parafusos até chegar a aposentadoria.
A história não será contado por eles...
Appleton, this is the way to play...
Obras (por ordem alfabética)
Apolliana (1970)
CCCP (In Memoriam: Anatoly Kuznetsov) (1969)
Ce que signifie la déclaration des droits de l'Homme et du citoyen de 1789
pour les hommes et les citoyens des îles Marquises (1989)
Chef d'œuvre (1967)
Degitaru Ongaku (1983)
Dima Dobralsa Domoy (1996)
Dr Quisling in Stockholm (1971)
Georganna's Fancy (1966)
Georganna's Farewell (1975)
Homage To Orpheus (1969)
Homenaje a Milanés (1987)
Human Music (1969)
In Deserto (1977)
In Medias Res (1978)
Mussems Sång (1976)
Newark Airport Rock (1969)
Oskuldens Dröm (1985)
'Otahiti (1973)
San Francisco Airport Rock (1996)
Spuyten Duyvil (1967)
Stereopticon (1972)
The Sydsing Camklang (1976)
Syntrophia (1977)
Times Square Times Ten (1969)
'U ha'amata 'atou 'i te himene (1996)
Yamanotesen To Ko (1997)
Zoetrope (1974)
e esse K7 aqui? não tá na Wikipedia...
Gravações (por ordem cronológica)
Times Square Times Ten (1969)
Syntonic Menagerie (1969)
Human Music (with Don Cherry) (1970)
The World Music Theatre of Jon Appleton (Folkways Records, 1974)
The Dartmouth Digital Synthesizer (Folkways, 1976)
Music for Synclavier and Other Digital Systems: With Jon Appleton, Composer (Folkways, 1978)
The Tale of William Mariner and The Snow Queen (1982)
Two Melodramas for Synclavier (Folkways, 1982)
Four Fantasies for Synclavier, (Folkways, 1982)
Contes de la mémoire (empreintes DIGITALes, IMED 9635, 1996)
Wunderbra! (with Achim Treu) (2003)
Syntonic Menagerie 2 (2003)
Kitsch Jon
Espero que tenham gostado. Em breve, teremos mais...
NOTA DO BLOGUEIRO:
Conheça o incrível blog do Vanderlei Lucentini:
http://matrizmaterial.blogspot.com
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Um comentário:
Belo texto, parabéns!
Só uma correção, Embu não tem acento!
Abs
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