O último sábado antes do Natal de 2009 talvez tenha sido o dia do
ano que dei mais risadas.
Convidei dois bons amigos pruma visita na minha casa para ouvir
som e jogar conversa fora. Yupo e Agnaldo.
Acabamos por nos concentrar num pequeno lote de compactos
que a grande lenda viva do mundo dos disqueiros de São Paulo, ELVIS,
deixou comigo para que eu analisasse pra uma possível compra.
Ao ouvir melhor esses compactos com os amigos, percebemos que
eram obras primas da bizarrice autêntica Brasileira.
Dou a palavra ao Agnaldo que explicará melhor:
AMARGURADO, TRISTE E SOZINHO – É uma compilação das desventuras
dos músicos da periferia de São Paulo em busca da fama e do sucesso.
A maioria das gravações são de produtoras independentes, ou seja,
dos próprios músicos. Os discos, geralmente compactos duplos,
eram a porta de entrada desses músicos no mercado fonográfico.
Quase todos os discos dessa compilação são de meados dos anos 80
e as gravadoras são em sua maioria da Rua Cásper Libero e da
Avenida Rio Branco em São Paulo. Nessas ruas da Boca do Lixo de
São Paulo, nos anos 80 existiam também várias distribuidoras de discos
e inúmeras lojas onde se podiam comprar encalhes e todo tipo de
vinil de 5ª categoria...
Aqui podemos ouvir a tentativa de se clonar os sucessos da época,
bem como dos ídolos eternos como Roberto Carlos, Odair José,
Milionário e José Rico, Amado Batista, Waldik Soriano e Raimundo Soldado,
dentre outros... O estilo vai desde a jovem guarda passando pelo brega e
com pitadas de disco e de musica mexicana. O mais importante disso tudo é
ver a pretensão desses artistas em tentar entrar para o show bussines, com
gravações toscas e de produção semi-artesanal, e de um outro lado, a
utilização de um discurso de uma camada social que saia do lumpesinato.
Pelas capas dos compactos vemos pessoas simples, que provavelmente são
pedreiros, entregadores, ajudantes ou simples trabalhadores braçais,
mas que tiveram a gana de enfrentar os desafios da Indústria Cultural e
de tentar fazer parte dela. Outro aspecto relevante, é que são produções
custeadas pelos próprios artistas que acreditaram neles mesmos e que não
foram atrás da facilidade do patrocínio governamental, bem como de assaltar
os cofres públicos para satisfazer os seus próprios interesses com projetos.
Enfim, como até hoje são desconhecidos, tudo terminou em fracasso...
pois todos eram feios, sujos e malvados. Esperamos que essa pequena
amostragem seja uma homenagem ao esforço e a ilusão de querer fazer arte.
Texto de Agnaldo Mori
Tracklist:
01 - cisco no tanque/Zé Alves
02 - cachorro é você/João Bosco
03 - agora é só amor/Edval Rafael
04 - anticonsepcionais/Luiz Heleno
05 - dia dos namorados/Nivaldo Targas
06 - empregada doméstica/Catui
07 - eu banquei o gostoso/Zé Alves
08 - falta de vergonha/Sidney Roberto
09 - festa do tá doendo ai/Lasaro
10 - funcionária exemplar/Walter José
11 - garota da lanchonete/Japecanga
12 - o marmanjo levou/Mirian Cunha
13 - o ultimo homem da sua vida/Lúcio Flávio
14 - passat/Geraldão da Colina
15 - prostituta eroina/Catui
16 - um virus na neblina (gasolina)/Paulo Mamedi
17 - você não é cega/Gesildo Calixto
18 - coquetel no céu/Geraldão da Colina
Galeria de Capas, ou Circo dos Horrores:
Esse disco tem uma capa ótima, inclusive é o único que
merece mostrar a contra-capa também (abaixo).
Pena que nenhuma música boa para entrar na coletânea...
DOWNLOAD ATUALIZADO 2015
11 comentários:
Abaixo o progresso,
Não queremos estação da linha amarela, queremos de volta a loja do Roberto Stanganelli, o paraíso dos amargurados, tristes e sozinhos. Eu ia lá fazer umas garimpagens. Bons Tempos.
Vanderlei
Caras, essa coletânea é daquelas que a gente pro Genius fazer uma playlist e o iTunes TRAVA!!! ANIMAL!!!
só deve ter coisa boa nessa coletânea.
baixando aqui.
valeu mesmo!
MEu deus!!!! ahaaha
PB eu e o Leo (irmão do Grilo) temos ou tinhamos uma bela coleção tbm, Mas o nota 11 era Nino Gato com o hit:Ovos com feijão.
Abs
Porcão
sensacional! quem diria que existe outra música sobre parar de tomar pílula além da do odair josé! haha
Cara, eu sempre achei que eu era feio. Agora eu devo reavaliar esta impressão.
Feio nós somos, mas é que sempre existe alguém pior... hahahaha
Jair Supercap, o cara da capa e contracapa, era habitué do Clube do Bolinha da Bandeirantes.
Inclusive alguns discos dele são dedicados ao "Édson Cury". Fazia também muitos show nos carnavais e bailes do Hawaí 80's da Ilha Porchat Club.
Cresci numa cidade pequena, e sabe Deus a causa, ele fazia muitos shows contratado pela prefeitura. Tipo inauguração da rodoviária nova.
Assisti alguns quando eu era criança, levado pela minha mãe. No final ele se transformava em Ney Matogrosso e Elba Ramalho.
Tem um vídeo do Clube do Bolinha no You Tube com ele de Elba.
Enfim, já adulto, levei um porre daqueles e por isso topei rever o show do Jair Supercap. Resultado, acabei disputando a tapa os discos que ele jogava pra platéia e... CONSEGUI UM LP UM COMPACTO!!!
Hahahaha!!! Abraços
Não tem "hahaha" que expresse o quanto eu estou rindo disso tudo.
Parabéns.
o arquivo não está mais disponível... não tem outro link, não?
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