terça-feira, 9 de dezembro de 2008
anvil FX - LO-FI GENESIS - BRASIL - 1999
************ COMEMORANDO 10 ANOS EM 2009 ***************
Em 99, drum'n'bass era um estilo musical muito popular,
muito promissor como liguagem e ao mesmo tempo um bom nicho
para os produtores de música eletrônica que curtiam um som
mais pesado, primitivo e ao mesmo tempo futurista.
Diante desse perfil, abracei a causa.
Mas, como tudo que eu faço, nunca sou um purista e além de tudo,
sempre estou à frente do que o público médio assimila.
Essa combinação de "descompassado" com "estilo contaminado por
outras referências" sempre me colocou à margem.
Sempre me fez ser um bosta para o hype da onda.
E é justamente sob o viaduto do pop que eu gosto de estar.
Na lata do lixo da coluna social e no soslaio dos descolados.
Sempre trago tanta referência para meu trabalho, que aos olhos
do "oba oba" passo despercebido me divertindo com uma dimensão
invisível pros leigos e desinformados "detentores da verdade".
Estar nessa posição nunca me fez ser rico ou famoso, mas me
divertí muito com tantas possibilidades que "ser livre das regras"
me proporcionou.
Esse é o balanço que faço olhando 10 anos para trás, onde vejo
esse disco ser criado em minha cidade natal, Juiz de Fora, dentro
do meu quarto, sem usar computador, sem usar recursos tecnicos
dos estúdios proficionais.
Um W-30 da roland, um JX-305 da roland, uma mesinha de som fuleira
e emprestada e um gravador de Mini Disc.
Pra fazer um disco citando Dizzie Gillespie, Tura Satana, Carlos Bracher,
Ministrinho, Pelé, Banda de Pífanos de Caruaru e Juliette Gréco... quem?
E o pior, colocando vocais femininos em DUAS músicas, para o
desespero dos puristas manos paulistanos toscos que de longe torciam o nariz
dizendo: isso não é "dirumnembésssss".
Pouco tempo depois, o que fazia mais sucesso eram as produções
com vocais femininos que vinham de londres.
E as adaptações de musicas da mpb?
Estava eu lá na frente... de novo...
Quando olho pra trás, vejo também um velho amigo Jeferson Santos, "o Dief",
montando uma loja de discos muito foda e um selo em Belo Horizonte
com outros sócios. A lendária MOTOR MUSIC.
Dief me "puxou" de JF e disse: "Vamos lançar um disco do Paulo Beto!".
Todos os sócios deram com reticências um crédito ao Dief.
A combinação de poderes com os outros sócios gerou uma força
suficientemente potente para colocar o disco na mídia em São Paulo e
para fazê-lo ser ouvido pelas pessoas certas do meio musical.
O FREAK Paulo Beto passou à ser considerado não só pelo público, mas
consequentemente pelos outros artistas, por outros selos, pelo SESC SP,
e por jornalistas que, além de terem escrito ótimas matérias de destaque
ainda me seguiam dando notas em suas colunas.
Foi o mais perto da crista da onda que cheguei na vida, e lá de cima
aquilo não me seduziu. Não me tornei um viciado em "alturas" como
é costume acontecer com os novos artistas.
Em proporções municipais eu já havia passado por aquilo antes e já
tinha plena certeza de que pra mim não era um bom lugar de se estar.
Eu já tinha 32 anos e pra mim muito "daquilo tudo" era ridículo.
Babação de ovo de gente que não conhecia ou entendia o seu trabalho,
gente falsa se aproximando porque meu trabalho era "importante",
muita gente "bonita" e vazia ao redor e outras coisas que me dão
vontade de vomitar até hoje...
Mas não pensem vocês que eu me acho um gênio e que estou acima de todos
os mortais, porque foi justamente minha auto-crítica e minha sede por
aprendizado é que me fez sobreviver saudável.
Esse disco contém de fato uma infinidade de erros tecnicos e práticos.
Como foi produzido na raça, assim como tudo que eu havia feito antes,
não possui uma sonoridade satisfatória de mix e timbres que ele pede.
Os discos contemporâneos tinham uma ciência de gravação e mixagem
que pra mim era impossível de alcançar com meu sampler de baixa qualidade
e meu Mini Disc que ainda piorava mais a situação.
Eu sempre deslumbrado com a espacialização do som, ignorava o fato que
pra "bombar" no P.A. de um show ou numa pista de dança, quanto mais mono
mais força o som tem, e essa é uma regra básica para a bateria e o baixo.
Se vc observar o audio desse disco, vai perceber algumas baterias e baixos
circulando pelas caixas (ou L-R) veementemente sem nenhuma sutileza, inclusive
porque era feito girando na mão os botões da mesa.
Fora a falta de "feeling" de DJ que eu sempre tive para produzir
músicas que funcionassem bem na pista e o maior motivo disso é
que essa é uma arte cheia de muitas regras e eu, inclusive cegamente,
sempre fugí delas.
De fato eu tenho que admitir que "os especialistas" tinham muito o que
criticar no meu trabalho, mas o que me salvava era um pouco mais de
inventividade e referêcias.
Dez anos depois, olhando para trás considero esse trabalho como um
lançamento FREAK e isso reflete muito o que eu sempre gostei de ser.
Fiz a minha contribuição ao mundo do bizarro que hoje é "minha religião".
E eu, continuei "traíndo" quem apostou em mim como uma possibilidade de
habitar o mundo fashion, pop, hype...
5 anos depois uma jornalista disse pra um amigo meu, "...Paulo Beto não deu
em nada..."
Sob a perspectiva dela eu devo concordar.
Mas à 10 anos atrás, quando eu ainda achava que uma pista de dança
era um lugar divertido e inteligente de estar, eu criei esse disco com
muita paixão. Mais paixão que qualquer outra coisa, e coloquei junto comigo
os amigos outsiders e undergrounds que me faziam bem.
Em tributo à estas pessoas que ficaram invisíveis porque o formato
"artista pop brasileiro" não permite que elas tenham destaque,
eu aquí às apresento:
ADRIANA PELIANO: Responsável por todo design gráfico da capa.
Na época Adriana morava em Brasília (onde nesceu). Hoje se casou
comigo e moramos em São Paulo.
Ela produziu um vasto acervo de imagens na época, inclusive um
video clipe chamado "Maxicosmo das Células Plásticas".
Ela é até hoje responsável pelo design da banda.
HEKTOR MONTEIRO: Grande amigo e companheiro na época.
Vivia me enchendo o saco "vc não vai lançar um cd?".
Acompanhou todo o processo de criação do disco.
Acompanhou todo o meu envolvimento e o conhecer do
Drum'n'Bass. Um pouco antes costumávamos a tocar muito juntos
no nosso projeto progressivo de brincadeira chamado DR. PHIBES.
Me deu várias idéias no disco, gravou bateria pra SUBGLISSANDI, e
acompanhou toda masterização do disco em BH.
ROBERTO (Cabeça) BELLINI: outro grande amigo e companheiro
naquele momento, antes e sempre. por coincidência, irmão de Hektor.
Também me deu várias idéias no disco. Até assina como co-autor em
PLANET GEORGIA. Hoje é famoso no mundo das artes visuais.
Mora já faz tempo em BH e sempre que possível ainda trabalhamos
juntos. Confira seu site http://www.robertobellini.com/
TARCILA BRODER: Gravou a voz de CARNAVAL, que é uma adaptação
de um samba antigo de um compositor Juizforano chamado MINISTRINHO.
Na época morava em niterói mas tinha família em Juiz de Fora
e por isso estava sempre lá. O que permitiu que participasse do disco
e posteriormente montamos um projeto juntos chamado
BELLEATEC onde fizemos uns shows em JF e Rio.
Hoje mora na Inglaterra.
RENA ENGELS: Emprestou a linda voz para a assinatura musical
do anvil FX desse disco para a música PROXIMO SEGUNDO.
Natural de Juiz de Fora, trabalhou muito como locutora de rádio lá,
além de atuar também como modelo.
Hoje vive em BH e provavelmente continua desenvolvendo as
mesmas atividades. Fizemos alguns shows juntos, inclusive um
em Ouro Preto pra 12 mil pessoas.
PAULO MOTTA: Conhecido como PAUL na nossa turma, ele que me
ensinou todo o básico sobre música eletronica, experimental e
improvisação livre, foi convidado à criar um track pro disco
remixando de forma eletroacústica um improviso gravado em
São Paulo comigo, o músico Loop B e o vocalista Alex Antunes.
Esse track é o último do disco, aquí creditado como UNTITLED,
onde ficava escondido após alguns tracks de silêncio.
Hoje faz parte do Corpo Acadêmico da Universidade UFJF na área
de filosofia.
DJ NONÔ: Grande cara! Dj à muitos e muitos anos. Faz bailes
agitados pra comunidade de Juiz de Fora.
Conviví muito com ele numa época que ele tinha uma
incrível rádio comunitária no morro onde morava chamada
MEGA FM. Eu mesmo tinha dois programas lá.
Foi ele que faz os schatches com o audio do Pelé fazendo
seu milésimo gol. Coisa de gênio!
tracklist:
01 - Lo-Fi Genesis
02 - O Próximo Segundo
03 - Planet Georgia
04 - Caruaru Elétrico
05 - Mixerrotor
06 - Subglissandi
07 - Carnaval
08 - A Poesia
09 - O Ciúme
10 - Element Destruction (Portrait Of Tura Satana)
11 - 1000
12 - Céu De Brinquedo
13 - Untitled
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5 comentários:
ué?
eu gosto do som deste cd. ok. eu sei q sou weirdooo...
que legal! benvindo ao weirdoo club! a gente se conhece?
Graande PB!
Fiquei emocionado aí com a homenagem e com o texto, marvailha!!
Freak Power!
Continuamos na luta!
abração!
Acho demais esse cd, tenho ele original!!!
A criatividade contida nessas musicas eu vi em poucos trabalhos nacionais e gringos!!!
E eu me lembro mto bem do clip que passava no Amp da MTV
Gosto bastante desse álbum, que possuo em cd original desde o início dos anos 2000... Ouvi dezenas de vezes e certamente o senso de liberdade e experimentalismo criativo tiveram alguma influência sobre minhas produções mais "quebradas" [como AlienAqtor].
Abraço, PB.
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