segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Clássicos da Fronteira Vol.2 por Marco Gaspari

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Coletânea é uma expressão de origem latina, coisa que me deixa muito frustrado.

Fosse grega a sua origem, estaria explicado porque 87,55% dos discos coletânea são
verdadeiros presentes de grego.

Por outro lado sobram 12,45% de boas surpresas, uma quantidade mais do que
suficiente para animar qualquer um a encher o cantil e sair à caça do vinil perdido.

LEHRLINGE HALTEN ZUSAMMEN

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Comprei este disco nos anos 80 basicamente pela capa, pelos cabeludos que aparecem
na foto da contracapa e, principalmente, pela participação do maravilhoso Floh de Cologne,
o único grupo que eu conhecia.

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Como eu não sei lhufas de alemão, levei no escuro e é um
dos discos que eu tenho mais orgulho de possuir na minha coleção. Hoje em dia, graças à
internet, tenho alguma informação a respeito, mas ainda é bem pobrezinha.

O disco foi lançado pelo selo Plane em 1969 e parece que nunca foi oficialmente reeditado.
Como o Floh de Cologne, os outros grupos desta coletânea usam a sátira para dar forma a
discursos sarcásticos de forte inclinação socialista. Isto posto, nem é preciso dizer que aqui
o demônio é o capitalismo e que é imprescindível organizar toda a resistência possível
contra esse sistema malígno. Na contracapa existe um resumo de seis pontos levantados
por Karl Marx, o paladino mor da justiça social, na questão da juventude nas
sociedades capitalistas.

Mas o melhor do disco é que todo esse blá-blá-blá vem acompanhado de ótima música.
É krautrock em seus primórdios, uma pérola obscura para quem aprecia o gênero.

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NEUE DEUTSCHE POST AVANTGARDE – UMA AMOSTRAGEM DA MÚSICA ALEMÃ PÓS-MODERNA

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Esta coletânea de música industrial foi lançada em 1987 aqui no Brasil e não deve ser
nenhuma novidade para muitos de vocês que passeiam por este blog.
Mas a historinha dela é interessante e merece ser registrada.

Ela é considerada na Europa uma das melhores compilações da cena industrial alemã
dos anos 80 e foi feita na Alemanha sob encomenda para o Instituto Goethe de São Paulo.

A edição é limitada a 2950 cópias e apenas 150 delas foram vendidas na Europa.

Segundo os colecionadores europeus, as 2800 cópias restantes estão “perdidas”,
provavelmente para sempre, nas selvas do nosso primitivo país.

Ela hoje é cotada por lá na base de 80 euros.

Se você, caro leitor ouvinte, possui uma cópia, guarde-a com carinho.
Caso ainda não tenha, vale a pena organizar um safári e procurar a sua.
Deve haver ainda algumas cópias dando sopa por aí a preços convidativos.
Só que é bom prestar atenção e ver se está encartado no disco o livretinho
que apresenta, em português, todas as bandas da coletânea.
Boa caçada.

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VIVA UNA EXPERIENCIA PSICOTOMIMÉTICA

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Você está diante de um importante pedacinho da história do rock na Venezuela.
“Viva Una Experiencia Psicotomimética” não é apenas uma coletânea de grupos de
rock do país, a primeira a mostrar seus jovens valores em 1968, mas a prova material
de todo um projeto para uma série de concertos promocionais envolvendo efeitos de luz
e som psicodélicos para impressionar o público.

O disco foi gravado em mono e produzido por Jesús Pérez Perazzo que era não
apenas o regente da orquestra Venezuela Pop, como também gerente contratado
em 1967 pelo selo Fonograma para tirar a empresa do buraco em que se encontrava.
Perazzo era também consultor de uma clínica psiquiátrica e participava na época
de um projeto experimental na área de musicoterapia, estudando os efeitos da
música no ser humano. Sua idéia foi contratar grupos jovens desconhecidos e
gravá-los com acompanhamento de sua orquestra.
A tal de “Experiência Psicotomimética” seriam os shows ao vivo dessas bandas
sob os tais efeitos de luz e com a animação do popular locutor Cappy Donzella.
Os grupos que tivessem maior receptividade do público teriam seus discos gravados
e lançados pelo selo. Vários shows foram marcados e o primeiro foi um absoluto sucesso.
Os demais, porém, foram apresentando problemas e mais problemas até que
Perazzo desistiu da empreitada.
Voltando ao disco, não se trata da gravação de nenhum desses shows ao vivo,
mas uma montagem feita em estúdio utilizando sons de platéia ao vivo
para unir as músicas.
Mas o que seria o clima do espetáculo está todo registrado, até mesmo com
Cappy Donzela iniciando o disco com a seguinte locução:
"...verde 68, amarelo 14, azul branco 19... testando... neste momento nos apoderamos
de suas mentes... vocês vão viver uma experiência psicotomimética...".
A única coisa a lamentar aqui é que só uma música é original, interpretada pelo grupo
Los Memphis. Mas em compensação existem pérolas, como uma versão também de
Los Memphis para Nights In White Satin (Una Noche En Satín Blanco).

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No ano seguinte o selo Fonograma lançou a “Segunda Experiencia Psicotomimética”
e hoje em dia é possível achar os dois discos em CD venezuelano.
Mas a experiência de ver o efeito do vinil com manchas coloridas girando no
toca-discos, só quem tem a bolacha original pode viver.

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DOS HORAS EN LIBERTAD – LA OPERA ROCK (COMIC)

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Comprei esta fita cassete em Montevidéu lá pela metade dos anos 90 e ela
sempre foi um mistério para mim. Não consigo nenhuma referência na internet e
nem mesmo no ótimo livro de Fernando Peláez: De Las Cuevas Al Solís 1960/1975 –
Cronologia Del Rock En El Uruguay, ela é citada.
Mas é uma coletânea muito legal, que dá um pequeno exemplo do rock uruguaio
nos anos 70. Tem Montevideo Blues, Totem, Psiglo... e dois locutores que ficam
conversando entre as músicas, como se fosse um programa de rádio.
Se você souber algo a respeito, não deixe de me contar.

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marco
Marco Gaspari é dono da loja Mister Sebo e tem zumbido nos ouvidos, como se o Pierre Henry fosse um hóspede permanente. Também escreve na revista poeiraZine.

4 comentários:

litlgrey disse...

Gerechtigkeits Liga? Really? I used to know those two. Turned up unexpectedly at the home of my parents at 3 am one time, too.

I think you can find them on MySpace now.

pb disse...

Comentário de Agnaldo Mori no Facebook:
Esse disco é maravilhoso PB... P16D4, HNAS, Cinémá Vérité, Cranioclast... Foi a minha perdição, porque fiquei durante anos procurando discos desse pessoal... Faltou falar que ele foi produzido pelo Asmus Tietchens e que a idéia do disco nasceu quando de uma turnê que ele estava fazendo pelo Brasil e de se divulgar o que estava acontecendo na Alemanha. Creio que eu tenho uma entrevista dele na Radio Cultura dessa época (só não sei como achá-la, rsrsrsrsr...). O projeto nasceu de uma conversa dele com o Elmar Brandt que era diretor do Instituto Goethe em São Paulo. O disco teve lançamento no dia 14 de julho de 1988, na primeira lojinha da Cri Du Chat (ainda tenho o flyer...) e eu estava lá. No disco o selo indica 1987, mas não há qualquer informação de onde ele foi prensado. Em paralelo com o lançamento desse disco houve uma semana inteira de exibição de filmes e vídeos de vários grupos alemães na sede do Instituto Goethe em Pinheiros. É uma pena que não temos mais esse tipo de iniciativa e de uma política agressiva em favor da Música. Parabéns pelo blog, sempre temos surpresas agradáveis. Um abraço, Agnaldo.

pb disse...

Obrigado você, Agnaldo, que sempre tem coisas relevantes à acrescentar!
abração!!!!

Tiago Mesquita disse...

Essa nova música alemã eu descolei no Goethe. Esse e o The Blech.

 
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