Talvez este seja um dos primeiros lançamentos dedicados ao assunto
lançados no circuito comercial do mercado fonográfico brasileiro.
Patrocinado pela extinta empresa aérea VASP, esse disco é uma verdadeira pérola.
Nota-se o carinho da pesquisa de Tânia Quaresma que fez uma excelente
seleção de artistas de rua num Nordeste Brasileiro ainda pouco explorado
pela mídia e pelas apropriações culturais.
Grandes artistas, ilustres miseráveis desconhecidos, passam a habitar as
vitrolas da classe média estudantil, audiófila, pesquisadora da séria sociedade
consumidora devoradora brasileira.
A fome de se conhecer mais sobre essas figuras exóticas mastigando a fome
em suas barrigas lubriguentas.
Personagens super populares das feiras nordestinas são agora ouvidos na casa
do ouvinte encantado com tanta riqueza extraída de uma região tão pobre.
Gente como: Olho de Gato, Cajú e Castanha, Santinha, Misael entre outros.
Artistas que não serão lembrados pra sempre na História da música brasileira,
entretanto eles estão lá!
O disco apresenta fórmulas deferentes manifestação poética e musical.
Basicamente, o CORDEL que são textos escritos em prosa cujas rimas narram
fatos e personagens importantes da cultura popular, de Lampião ao seu
"Zé Ruela" dos Santos ao Diabo.
Uma literatura impressa, ilustrada, lida e decorada que daí entretem os
transeuntes das feiras e calçadas.
O REPENTE que é a improvisação em palavras cantadas, normalmente acompanhadas
por algum instrumento musical que pode ir da Rabeca, violão, pandeiro à lata
de doce.
Testa a capacidade do artista de improvisar a poesia interagindo com o
acontecimento momentâneo ritmado pelo instrumento em forma de batalha
e desafio com outros repentistas.
E o disco trás também canções populares de toda essa cultura.
As informações originais do disco podem ser lidas na imagem abaixo, inclusive
toda a ficha técnica.
Felizmente este disco não é da época que o Gilberto Gil fazia campanha
gravando (se metendo) com os artistas de rua, posando de ministro bondoso.
Acima imagens feitas pela própria pesquisadora em loco.
Ouça aqui
6 comentários:
esse disco resulta de um documentário feito pela tânia quaresma, e é de importância discográfica impar para o que veio a se chamar mpb, nos anos 70. A mpb dos anos 60 era originária de boates e vivência noturna. a partir dos festivais e do advento do hi-fi e do disco flexível, a mpb passa a ser, também, produto de influência de fonogramas. esse lp, mesmo raro, é um dos mais influentes para a chamada "geração nordeste". é citado em uma capa de lp do geraldo azevedo, chamado, exatamente, 'influências'. zé ramalho nasceu desse lp - lembrando que é o fruto fonográfico de uma pesquisa originária em filme. zé ramalho era roqueiro e foi convidado por tânia para alguns takes, onde conheceu a obra do repentista zé limeira - o mitológico "poeta do absurdo", pois destronava seus concorrentes com os versos mais insólitos. toda a obra poética de zé ramalho deriva desse autor - que, infelismente só tem um livro editado, no recife. não conta com reedição e é muito raro. o fonograma apresentado nesse lp é a única gravação de algo de zé limeira (que eu saiba). a canção do cego foi gravada por zé ramalho, como se fosse recolhida do folclore, mas ele tirou desse lp. Lenine - atual - utilizou a gravação de caju e castanha - quando meninos no recife - em uma de suas grfavações. as toadas (que sõa na verdade modas de viola, porém feitas no nordeste) de Olho de Gato, até hoje são gravadas e eu já ouvi em vários camelôs e zoninhas do largo da batata. a qualidade de gravação (feita em k-7) é surpreendente e deu a deixa de uma caralhada de discos gravados 'in loco' sobre o folclore brasileiro.
meu coração desfalece de prazer, paulo, por incluir no seu bloog esse tipo (para mim e muita gente) de gravação mui importante para determinado tipo de cultura, não exatamnente estranha, mais iqualmente obscura.
abraços!
correção: a canção do cego foi gravada por alceu valença, que, em vários shows canta passagens de várias faixas desse lp.
Roberto, parabéns!
eu nem mereço seus comentários também...rs
Grande PB! Nem tenho palavras para elogiar esse disco, uma pérola do folclore brasileiro.
Segundo li, data de 1975.
Parabéns pelo blog.
Obrigado Gabriel!
Eita nego.. grato pela postagem!
Mas esta quebrado o link, consegue postar novamente? Serei muito grato!
Forte abraço.
M.Autóctone
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